F1 Timóteo 3.16 “E, sem dúvida alguma,
grande é o mistério da piedade: Deus se manifestou em carne, foi justificado no
Espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima
na glória. “
Temos aqui um fragmento de um dos hinos da Igreja primitiva. É uma maneira de expressar em poesia e em música a fé dos homens de Cristo. É um hino em que os homens cantavam seu credo. Que é um hino, notamos pelo paralelismo cuidadoso entre as estrofes, pela dicção rítmica, e a assonância deliberada (muito marcante no Grego).
Joachim Jeremias, em seu livro: A Promessa de Jesus às Nações argumentou que esse hino cristológico é essencialmente uma declaração missionária, anunciando a inclusão das nações em consequência da morte e ressurreição de Jesus. Não podemos buscar numa poesia ou num hino a precisão que buscamos num credo; mas devemos tentar ver o que cada linha deste hino nos está dizendo.
“E, sem dúvida alguma, grande é o mistério
da piedade: ”
“O advérbio traduzido aqui como “sem dúvida alguma” ou “evidentemente” (homólogoumenòs) significa “por consentimento comum,” e expressa a convicção unânime dos cristãos. Essa revelação divina que promove a piedade é “inquestionavelmente grande” ou “inegavelmente grande”.
A fórmula “grande é o mistério”, conforme tem sido indicado, tem uma semelhança estranha com o grito: “Grande é Diana dos Efésios” (Atos 19:28, 34). Um “mistério”, é um conjunto de verdades que agora se tomaram conhecidas apenas porque Deus quis revelá-las.
O original de piedade (eusebeia) significa nossa religião, antes Paulo a havia chamado de “mistério da fé” (v. 9), e isso por estimular a fé e ser também o objeto da fé. E é o mistério da piedade, por sua vez, porque estimula a nossa adoração, a nossa humildade e a nossa reverência diante de Deus, como o faz toda verdade.
Começando aqui e no restante do versículo, as linhas estão dentro de um padrão regular, tal como deve uma poesia ou hino. Serviu bem aos propósitos de Paulo de ligar seus pensamentos a algo bem conhecido e atual, uma vez que a mensagem então seria melhor lembrada. Muitas das referências a cânticos no N.T. estão em conexão com Paulo (Efésios 5:19; Colossenses. 3:16; Atos 16:25; 1 Coríntios. 14:15).
“Deus se manifestou em carne,”
Aqui é ressaltada a encarnação de Cristo. Cristo foi manifestado em carne, isto é, apareceu na terra como um homem real (Romanos 1:3). Carne representa a humanidade do Deus-homem. Sua encarnação em harmonia com a doutrina do Nascimento Virginal: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (João 1:14).
“... foi justificado no Espírito, ”
A segunda estrofe, justificado em espírito, é mais difícil. Visto que “vindicado” (edikaiòthê) literalmente significa justificado ou “declarado justo”. Ficaremos então com duas alternativas.
Embora o Salvador aparecesse na terra como um homem verdadeiro, foi justificado, isto é, declarado justo e demonstrado como sendo realmente o Filho de Deus, no que diz respeito à Sua natureza espiritual, sendo subentendido uma referência à ressurreição. Pela presença do Espírito no ministério de Cristo Ele foi vindicado e comprovado ser verdadeiro em todas as Suas declarações (Romanos. 1.4)
Outros, dando a em um sentido instrumental e entendendo que espírito denota o Espírito Santo, preferem a tradução: “Foi declarado justo através de, ou por meio de, o Espírito Santo.” O significado será então que, embora Cristo fosse crucificado como malfeitor, Deus O vindicou e O declarou justo quando, através do Espírito Santo (Romanos 8:11), ressuscitou-o dentre os mortos.
“... visto dos anjos, ”
O que está sendo ressaltado aqui é a adoração prestada pelos poderes angelicais ao Cristo assunto e glorificado. Sua exaltação é representada como um triunfo sobre o mundo dos espíritos, que elicita sua adoração: "E, novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo, diz: E todos os anjos de Deus o adorem" (Hebreus 1:6).
Sua posição elevada sobre eles é explicita também em 1 Pedro 3. 22 “O qual está à destra de Deus, tendo subido ao céu, havendo-se-lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potências”.
“... pregado aos gentios, “
Aqui nos encontramos com a grande verdade de que Jesus não era possessão exclusiva de uma raça ou de uma nação. Ele seria pregado entre as nações (Gentios).
Tiago, irmão do Senhor, lembrando das palavras do profeta Amós que disse: “Naquele dia tornarei a levantar o tabernáculo caído de Davi, e repararei as suas brechas, e tornarei a levantar as suas ruínas, e o edificarei como nos dias da antigüidade; Para que possuam o restante de Edom, e todos os gentios que são chamados pelo meu nome, diz o Senhor, que faz essas coisas” (Amós 9:11-12). Entendeu que através do Cristo davídico, os gentios serão incluídos em sua nova comunidade. A inclusão dos gentios não era uma idéia posterior de Deus, mas algo predito pelos profetas.
Essa expressão “pregado aos gentios” é um resumo de toda a presente era de trabalho missionário: “Mas que se manifestou agora, e se notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para obediência da fé” (Romanos 16.26).
“... crido no mundo, “
Esta é uma verdade quase milagrosa afirmada com total simplicidade. Depois que Jesus morreu ressuscitou e subiu a sua glória, o número de seus seguidores era de cento e vinte (Atos 1.15). Tudo o que seus seguidores tinham para oferecer era a história de um carpinteiro galileu, crucificado numa colina na Palestina como um criminoso.
E, entretanto, antes que passassem setenta anos, essa história tinha chegado aos limites da Terra, e homens de todas as nações aceitavam a esse Jesus crucificado como seu Salvador e Senhor: “Que já chegou a vós, como também está em todo o mundo; e já vai frutificando, como também entre vós, desde o dia em que ouvistes e conhecestes a graça de Deus em verdade” (Colossenses. 1:6).
Nesta frase simples encontramos toda a maravilha da expansão divina da Igreja, uma expansão que seria impossível sem a aprovação divina. Conforme o pensamento de Gamaliel se a obra é de homens se desfará: “E agora digo-vos: Dai de mão a estes homens, e deixai-os, porque, se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará, Mas, se é de Deus, não podereis desfazê-la; para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus” (Atos 5.38-39).
“... recebido acima na glória.”
Refere-se particularmente à Ascensão, mas inclui toda a subsequente exibição de sua glória: “Levantai, ó portas, as vossas cabeças, levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da Glória. Quem é este Rei da Glória? O Senhor dos Exércitos, ele é o Rei da Glória” (Salmos 24.9-10). Isto fica sugerido pelo progresso histórico e lógico do poema: o todo da obra messiânica de Cristo ficou nEle resumido.
A história de Jesus começa no céu e termina no céu. Viveu como um servo; foi assinalado como um criminoso; foi crucificado; ressuscitou com as marcas dos pregos ainda visíveis; mas o final é a glória.
DEIVY FERREIRA PANIAGO JUNIOR
5/1/2025
FONTES:
SOARES, Esequias. Em defesa da fé: Combatendo as antigas heresias, que se apresentam com nova aparência. Rio de Janeiro: CPAD, 2024.
HARRISON, Everret F; PFEIFFER, Charles F. Comentário Bíblico Moody. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1990.
BARCLAY, William. The First Letter to Timothy Tradução: Carlos Biagini
STOTT, John R.W. A mensagem de 1 Timóteo e Tito: a vida da Igreja local: a doutrina e o dever; tradução Milton Azevedo Andrade. — São Paulo : ABU Editora, 2004.
KELLY, John N. D. I e II Timóteo e Tito: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova e Editora Mundo Cristão, 1983.
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