(Texto Áureo) “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não, porque o que passa disso é de procedência maligna”. (Mateus 5.37)
Nossa época caracteriza-se pela ausência
de credibilidade. A palavra de todo homem é suspeita, e temos adotado a atitude
de que embora ouçamos o que se diz, sabemos que o que se diz não é o que se pretende
dizer. Tal atitude espalhou-se de tal modo que o governo teve de intervir no
campo da publicidade e estabelecer certas diretrizes quanto à veracidade da
propaganda. Fatos que chegamos a aceitar como verdade, verificamos agora que
são falsos. Assim, chegamos a desconfiar de quase tudo o que se diz. A prática
do juramento tem raízes muito profundas no Antigo Testamento. O indivíduo
jurava para afirmar a veracidade de suas palavras. O juramento era uma maldição
que a pessoa se impunha se sua palavra não fosse verdadeira ou sua promessa não
fosse cumprida. No texto que temos diante de nós, o capítulo 5 de Mateus, Jesus
referiu-se aos que juravam pelo céu (v.34), ou pela terra (v. 35), ou pela
cidade de Jerusalém (v.35). Um dos métodos mais comuns de jurar era erguer a mão
para o céu e jurar pelo Deus do céu: “Abrão, porém, disse ao rei de Sodoma:
Levantei minha mão ao Senhor, o Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da
terra, Jurando que desde um fio até à correia de um sapato, não tomarei coisa
alguma de tudo o que é teu; para que não digas: Eu enriqueci a Abrão” (Gênesis
14:22,23). Essa ideia ainda perdura em nossos tribunais, pois se pede à pessoa que
levante a mão direita e jure solenemente.
“Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não, “ Jesus não proíbe
que juremos em julgamentos e na verdade, quando a lei nos exige isso. Isso é
evidenciado pela ocasião dessa parte de seu ensino. O que ele reprova é o
abuso. Ele reprova todo juramento como juramento comum. Jurar diante de um
magistrado é bem diferente. Dessas mesmas palavras ele forma sua conclusão
geral: "Seja o seu 'sim', 'sim', e o seu 'não', 'não' ", indica que
respostas honestas podem ser dadas. De seu próprio exemplo, vemos que ele mesmo
respondeu sob juramento quando exigido por um magistrado. Quando o sumo
sacerdote lhe disse: "Exijo que você jure pelo Deus vivo: se você é o
Cristo, o Filho de Deus, diga-nos", Jesus de imediato respondeu, afirmando:
"Tu mesmo o disseste", isto é, que aquilo era verdade. Deus Pai
confirmou por juramento sua disposição de mostrar aos herdeiros da promessa a
imutabilidade de seu conselho. Também Paulo que, pelo que entendemos, tinha o
Espírito de Deus e compreendia a mente de Jesus, nos deu um exemplo. "Deus
[... ] é minha testemunha", disse aos romanos, "de como sempre me
lembro de vocês em minhas orações". Aos coríntios ele escreveu:
"Invoco a Deus como testemunha de que foi a fim de poupá-los que não
voltei a Corinto". E aos filipenses confessou: "Deus é minha
testemunha de como tenho saudade de todos vocês, com profunda afeição de Cristo
Jesus". Portanto, aparece inegavelmente que, se Paulo conhecia o
significado das palavras de Jesus, elas não proíbem o juramento em ocasiões
importantes mesmo uns aos outros. Muito menos proíbem juramentos a magistrados.
Pelo menos, daquela afirmação de Paulo, algum juramento em geral era aceito. Em
Hebreus ele ensinou: "Os homens juram por alguém superior a si mesmos, e o
juramento confirma o que foi dito, pondo fim a toda discussão".
“...porque o que passa disso é
de procedência maligna”. Jurar pelo
céu é o mesmo que jurar por Deus, já que Deus está no céu. Uma vez que Deus
está presente em todos os lugares, está na terra e no céu, então jurar pela
terra é também jurar por Deus. Jerusalém era a cidade santa de Deus. Assim,
jurar por Jerusalém era jurar por Deus. É claro que nada é nosso. Tudo é de
Deus. Ele é o único Senhor de tudo, no céu e na terra. É fácil perceber a
razão: porque o que passa disso é de procedência maligna. Procedência Maligna quer
dizer: isto vem do Diabo, o maligno; vem da corrupção da natureza do homem, da
paixão e da veemência; de uma vaidade reinante na mente, e do desprezo pelas
coisas sagradas; vem daquela falsidade que há nos homens. “Todo homem é mentiroso”
(Romanos 3.4), e, consequentemente, os homens usam estas declarações porque
desconfiam uns dos outros e pensam que sem estas palavras não se pode acreditar
neles. Observe que os cristãos devem, para crédito da sua religião, evitar não
somente o que é mal em si mesmo, mas o que vem do mal e aquilo que tem
aparência de mal. É necessário evitar aquilo que possa ser suspeito, aquilo que
vem de algum a causa ruim.
DEIVY FERREIRA PANIAGO JUNIOR
03/05/2022
Fontes:
GOMES, Osiel. Os valores do reino de Deus – a relevância do
sermão do monte para a igreja de Cristo. Rio de Janeiro: Cpad, 2022.
PENTECOST, Dwight. O sermão da montanha. Trad. Luiz
Aparecido Caruso. São Paulo: Vida, 1984.
WESLEY, John. O Sermão do Monte. São Paulo: Vida, 2012.
HENRY, Matthew. Comentário Bíblico – Evangelhos. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.