Mateus 5.22a “Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão será réu de juízo[…] . ”
“Eu, porém, vos digo...”
Este versículo faz parte das “antíteses” de Jesus, o número de antíteses no sermão do monte são seis (w. 22,28,32,34,39 e 44), constitui, juntamente com sua conclusão, “a ilustração direta do versículo 21: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo “, isto é, a justiça do Reino. Não se trata simplesmente de “máximas morais ou, em outros termos, de um ‘mandamento’ (5,18-19), mas é a ‘justiça superior’” contraposta à justiça dos fariseus, conforme o entendimento de Joachim Jeremias. Para o mesmo autor, a “lógica que prevalece nessa passagem é a do excesso” e, continua ele, “se se trata de excesso, do incalculável, o outro não é simplesmente uma pessoa, objeto de um respeito quantificável em vista de um mandamento, mas se torna ‘sujeito’ que encontramos como próximo para além da regra”. Neste caso a utilização da hipérbole indica que [tal] palavra [...] não visa à descrição precisa de uma prática, que arriscaria se tornar razoável e a reduzir a ‘justiça superior’ da ordem do Reino de Deus à letra do ‘mandamento’ da ordem deste mundo”. O que está sendo dito é que, enquanto o mandamento, por mais objetivo que fosse, não conseguia contemplar as múltiplas formas de o pecado se manifestar, a justiça superior não pode ser convertida em regras, apesar de elas existirem, pois sua abrangência visa ao estado de consciência e aos hábitos do coração. Ela não se contenta com a não concretização do erro e da transgressão, quando qualquer um pode constatar o que de fato ocorreu. Sua atuação baseia-se no amor ao próximo, da mesma forma como Cristo ama a humanidade, um amor sem precedentes, posto que não exige reciprocidade e existe muito antes de o próximo saber de nossa existência objetiva.
“...qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão...”
Aqui Jesus iguala o homicídio àquela ira que não vai além do coração. Pode ser uma ira que nem se manifesta em palavra extremada. Quem sente qualquer aspereza no coração ou qualquer sentimento contrário ao amor está pecando no coração. Quem se ira sem motivo, sem causa suficiente, ou fica mais irado do que a causa permite, corre em risco de julgamento. Naquele momento, é ofensivo aos olhos de Deus. O Senhor, que exigiu dos homens conformarem-se à sua santidade para serem aceitos em sua presença, disse que o homem que se ira sem motivo está revelando impiedade; portanto, ele se desclassifica para entrar na presença de Deus. Talvez queime em nossa consciência que a ira injusta, aos olhos de Deus, é homicídio, e nenhum homicida tem a vida eterna permanente em si. Essa ira é manifestação de impiedade. A ira, o insulto e o xingamento são manifestações exteriores de uma atitude interior do coração. Nosso Senhor ensinou especificamente que quando Deus disse "Não matarás", não cuidava apenas do ato exterior, mas da atitude que gera o ato. Deve ter sido embaraçante para aqueles que se consideravam justos por nunca haverem tirado uma vida humana, ouvir o Senhor dizer-lhes que aos olhos de Deus não há diferença alguma entre a ira e o homicídio.
“...será réu de juízo […]”
Nosso Senhor disse que se alguém, sem motivo, irar-se contra seu irmão, estará sujeito a julgamento. Isto contrariava o que os fariseus diziam: "Quem matar estará sujeito a julgamento" (v. 21). Queria dizer que qualquer que fosse sua atitude para com outrem, enquanto realmente a pessoa não lhe tirasse a vida, não seria violadora da lei. Para os fariseus, essa pessoa era justa. Nosso Senhor disse que aquele que se irar sem motivo, estará sujeito a julgamento, muito embora nem toque no irmão. Paulo disse: "Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira" (Efésios 4:26). Os cristãos pode mirar-se, sem, contudo, pecar. O apóstolo reconhecia a existência da indignação justa, porque a ira pode ser a reação do amor ofendido. Onde existe amor, deve existir a possibilidade de ira. Nosso Senhor não condenou a indignação justa quando aquilo que é puro, justo e santo for desprezado e maculado; ele disse que todo aquele que se ira contra seu irmão, sem motivo, está sujeito a julgamento como se houvesse cometido homicídio.
DEIVY FERREIRA PANIAGO JUNIOR
21/04/2022
Fontes:
GOMES, Osiel. Os valores do reino de Deus – a relevância do sermão do monte para a igreja de Cristo. Rio de Janeiro: Cpad, 2022.
CARVALHO, César Moisés. O Sermão do Monte - A Justiça sob a Ótica de Jesus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
PENTECOST, Dwight. O sermão da montanha. Trad. Luiz Aparecido Caruso. São Paulo: Vida, 1984.
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