“Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se arrependa; porventura, diria ele e não o faria? Ou falaria e não o confirmaria? ” (Números 23.19)
“Deus não é homem, para que minta; ”
Por ocasião da tentativa de Balaque em fazer com que o profeta Balaão amaldiçoasse o povo de Israel, lemos que, ao introduzir a mensagem da Palavra de Deus que não agradaria a Balaque, o profeta Balaão enfatizou que Deus não mente nem se arrepende para, em seguida, arrematar: “Eis que recebi mandado de abençoar; pois ele tem abençoado, e eu não o posso revogar” (Números 23.20). Assim, Balaão não podia fazer o que Deus não havia decretado.
O homem mente, mas Deus sempre diz a verdade. Balaque estava vivendo uma ilusão em suas expectações, porque se elas fossem cumpridas degradariam o caráter divino. Todavia um dos atributos de Deus é a veracidade, “Deus não pode mentir” (Tito 1.2), pois isso seria contrário a sua natureza e ele não muda (Malaquias 3.6). O apóstolo Paulo escreveu: “Seja Deus verdadeiro, e mentiroso todo homem ...” (Romanos 3.4).
“... nem filho de homem, para que se arrependa; ”
O oráculo negava que Deus muda de parecer. “O propósito de Deus é consistente; Ele não se caracteriza pelo engano e capricho dos homens”. No entanto, acerca de Deus, também é dito que Ele se arrepende. Em Gênesis 6 lemos que Deus havia “se arrependido” de ter feito o ser humano, pois “pesou-lhe o coração” ao contemplar o caminho de corrupção e violência que a humanidade decidiu trilhar. Assim, poderíamos nos perguntar: Afinal de contas, Deus se arrepende?
Aqui em Números lemos que Deus não “se arrepende” (Números 23.19), em Gênesis, que Ele “se arrependeu” (Genesis 6.6). Contudo, em Gênesis 6, o “arrependimento” nada tem a ver com algo que Ele tenha feito de errado, ou alterado um plano original, mas sim com o que a humanidade fez com o plano e o propósito que o Senhor havia delineado para ela desde sempre. Juntamente com a expressão “arrependimento”, a expressão “pesou-lhe em seu coração” traz a conotação humana aplicada a Deus para reforçar a ideia do quanto Ele se entristeceu com a escolha que o ser humano fez.
Na Teologia, damos o nome a esse fenômeno presente nas Escrituras de “antropopatismo”, ou seja, a forma que o autor sagrado usa para atribuir características humanas a Deus, no sentido de que a mensagem fosse mais bem compreendida pelo leitor do texto sagrado. Em Gênesis 6, a falha não estava em Deus, mas no ser humano; o “arrependimento” de Deus não era em relação ao seu plano criador, mas ao ato rebelde do ser humano.
A ideia que Deus pode alterar Sua mente (arrependimento), como se Sua capacidade de planejar, com base em Sua presciência, fosse defeituosa, é um ataque intolerável contra a correta compreensão dos atributos de Deus. Um Deus que se arrependa, no sentido em que o homem se arrepende, seria um Deus que anularia suas promessas.
“... porventura, diria ele e não o faria? Ou falaria e não o confirmaria? ”
Deus sempre cumpre aquilo que promete. Em outras palavras, suas declarações proféticas e suas promessas infalivelmente terão cumprimento: “Não quebrarei a minha aliança, não alterarei o que saiu dos meus lábios” (Salmo 89.34). A bênção divina a Israel atravessa os milênios, e tem envolvido muitas predições que tinham e terão de ser cumpridas.
Assim sendo, a veracidade de Deus haveria de levar Seu propósito a uma cabal fruição. Deus comprometeu-se de modo inquebrantável de que abençoaria o povo de Deus, de acordo com Sua inexorável vontade. Nenhum poder, como o de Balaque, ou o de Balaão, poderia afetar essa decisão divina no mínimo que fosse: “Porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem o invalidará? E a sua mão está estendida; quem pois a fará voltar atrás? ” (Isaias 14.27)
Ademais, esse compromisso inquebrantável visava o bem de todos os povos, e não somente do povo de Israel, visto que Israel seria usado como instrumento que traria ao Mundo o Messias e Sua universal missão salvatícia. Isso fazia parte do pacto abraâmico, e foi reforçado no Novo Pacto: “Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti” (Gálatas 3.8).
DEIVY FERREIRA
PANIAGO JUNIOR
06/12/2024
FONTES:
RENOVATO, Elinaldo. As Promessas de Deus - Confie e Viva as Bênçãos do Senhor porque Fiel é o que Prometeu. Rio de Janeiro: CPAD, 2024.
CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. São Paulo: Hagnos, 2001.
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