terça-feira, 28 de outubro de 2025

Jó 10:1

Jó 10:1 “A minha alma tem tédio da minha vida; darei livre curso à minha queixa, falarei na amargura da minha alma.”

 

“A minha alma tem tédio da minha vida;”

Depois de responder a Bildade, Jó se volta para o próprio Deus. Ele não pode acreditar que Deus o fez para acabar em semelhante estado. No Antigo Testamento é afirmado repetidas vezes que Deus cuida com ternura das Suas criaturas, especialmente aquelas que estão abatidas.

Jó esperava que surgisse alguma espécie de árbitro, para pleitear o seu caso, algum homem, algum anjo, mas ele não achava ninguém (Jó 9.33). Portanto, resolveu tornar-se seu próprio advogado de defesa. Em seu desespero, Jó desafiou a Deus. Achou que nada tinha para perder. Ele já havia sofrido tudo, exceto a morte, e esta seria extremamente bem-vinda, pois significaria paz e livramento de dores intoleráveis.

Por isso permitiu externar a sua ira mesmo que Deus o matasse, então diz: “A minha alma tem tédio de minha vida”. Ele sentia tédio do seu corpo, e se sentia impaciente para se ver livre dele. Brigado com a vida, e insatisfeito com ela, Jó desejava a morte com essas palavras.

O sofrimento faz com que o aflito e o amargurado de alma muitas vezes desejem a morte como uma forma de livramento. Isso não é incomum em pessoas que experimentam, por exemplo, grandes dores físicas e até mesmo psicológicas. Todavia, convém dizer que querer a morte para ver-se livre da aflição é bem diferente de dar fim à própria vida. Jó não se atreveu.

 

“... darei livre curso à minha queixa, falarei na amargura da minha alma.”

Jó, tendo tédio da sua vida e não tendo tranqüilidade de outra forma, resolve se queixar, resolve falar. Ele não dará vazão à sua alma por meio de mãos violentas, mas dará livre curso à amargura da sua alma por meio de palavras violentas.

Ele falará com “amargor de espírito", porquanto sua vida se tornara amarga e insuportável. Assim como sentia Noemi: "Não me chamem Noemi, melhor que me chamem de Mara, pois o Todo-poderoso tornou minha vida muito amarga!" (Rute 1.20).

Sua boca falará, mas será a amargura da sua alma que ela expressará, e não o seu juízo estabelecido. Se ele falar errado, não seria ele, mas o pecado dentro dele; não falará de sabedoria, mas dos sentimentos. Apesar de sentimentos serem reais, não devemos ser dirigidos por eles. Eles nem sempre são justos por causa da nossa natureza caída. Nem sempre podemos confiar em nossos corações.

O Targum diz aqui: “Minha alma é decepada em minha vida", ou seja, estou morrendo enquanto ainda vivo. Em outras palavras, Jó estava vivendo uma vida que não era digna de ser vivida. Portanto, ele arriscou aquela vida miserável, a fim de queixar-se ousadamente na presença do Deus Todo-poderoso.

 

DEIVY FERREIRA PANIAGO JUNIOR
28/10/2025

FONTES:

QUEIROZ, Silas. Corpo, Alma e Espírito – A restauração integral do ser humano para chegar a estatura completa de Cristo. Rio de Janeiro: CPAD, 2025.

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico – Poéticos. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. São Paulo: Hagnos, 2001. 

ANDERSEN, Francis I., Jó: Introdução e comentário, Série Cultura Bíblica. São Paulo: Mundo Cristão, 1991.

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