“ORA, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o SENHOR Deus tinha feito.”
A serpente entrou no jardim em que Deus colocara Adão e Eva. Certamente o texto fala aqui de uma serpente real porque o autor a identificou como uma das criaturas que deus tinha feito.
Ele também usou o termo hebraico comum para “serpente”, que aparece no Antigo Testamento. Nachash é a palavra usada para o cajado de Moisés que se transformava em serpente quando lançado ao chão (Êxodo 4:3; 7:15) e descreve as “serpentes abrasadoras” que o Senhor mandou sobre os israelitas rebeldes no deserto.
Também é o termo que Deus usou quando mandou Moisés fazer uma serpente de bronze e colocá-la num poste; assim, os que haviam sido picados podiam olhar para ela e serem curados (Números 21:6, 7, 9).
Isto significa que a serpente não era um deus mitológico nem uma criatura semidivina, conforme descrevem algumas literaturas do Oriente Próximo antigo, como O Épico de Gilgamesh. Embora essa lenda seja às vezes considerada a fonte que deu origem à história bíblica, nada realmente indica que o autor de Gênesis tenha se valido dessa epopéia mesopotâmica.
Posteriormente, intérpretes judeus entenderam que a serpente de Gênesis foi um instrumento que o diabo usou para tentar o primeiro homem e a primeira mulher. Segundo escritores do Novo Testamento, Satanás falou por meio da serpente, enganando os pais da humanidade no jardim do Éden.
João registrou as seguintes palavras de Jesus: “Vós sois do diabo, que é vosso pai... Ele foi homicida desde o princípio... Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (João 8:44). Preocupado com a possibilidade de os falsos mestres enganarem os cristãos de Corinto, Paulo escreveu estas palavras: “Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo” (2 Coríntios 11:3).
O apóstolo afirmou que “Satanás se transforma em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça” (2 Coríntios 11:14, 15). Paulo acreditava que Satanás poderia disfarçar-se com o intuito de enganar pessoas. Foi evidentemente isso que ele fez no princípio, usando a serpente como seu instrumento para tentar o primeiro casal no paraíso terreno (Apocalipse 12:9, 15; 20:2).
O súbito aparecimento da serpente na narrativa bíblica poderia surpreender o leitor, se ele já não conhecesse a história. Todavia, o susto não seria tão grande quanto foi para a mulher que de nada suspeitava. De repente, ela se viu numa conversa com uma serpente que era mais sagaz que todos os animais selváticos criados por Deus.
Pode-se entender o termo hebraico aqui empregado como uma virtude positiva quando traduzido por “prudente” ou “sensato” (Provérbios 12:16, 23; 13:16; 14:8, 15, 18; 22:3; 27:12). Todavia, há uma conotação negativa quando o termo é vertido para “sagaz” ou “malicioso” (Jó 5:12; 15:5; veja Êxodo 21:14; Josué 9:4; Salmos 83:3). Seu uso mais significativo, evidentemente, é a referência à serpente em Gênesis 3:1. Em 3:1–5, vemos um contraste entre a percepção maliciosa da serpente e a inocência quase pueril de Adão e Eva em 2:25. .
“E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?”
Por que a serpente falou com a mulher, e não com o homem, é obscuro no relato. Alguns já disseram que as mulheres são naturalmente mais vulneráveis que os homens. Paulo explicou que “Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (1 Timóteo 2:14). Por outro lado, Paulo nada disse sobre a natureza de Eva, como se ela fosse mais ingênua que Adão. Ele simplesmente afirmou que, ao contrário de Adão, que pecou com os olhos bem abertos, ela foi enganada. Ela ainda não havia sido criada quando Deus disse a Adão que ele morreria se comesse da “árvore do conhecimento do bem e do mal” (2:17). Isto pode significar que o único conhecimento que Eva tinha sobre a árvore proibida era o que ela recebera em segunda mão de Adão. Talvez a serpente soubesse disso, pois ela formulou sua pergunta insinuando haver um mal-entendido sobre a proibição e o caráter de Deus.
O tentador começa com sugestão, antes que com argumento. O tom de incredulidade — “É assim que Deus disse...?” — é ao mesmo tempo perturbador e lisonjeiro; procura impingir a falsa idéia de que a Palavra de Deus está sujeita ao nosso julgamento. O exagero: “Não comereis de toda árvore do jardim” (RV, RSV corretamente dizem: ...de qualquer árvore), é mais um dos estratagemas favoritos do tentador; agitando-o diante de Eva, fê-la entrar na discussão nos termos do seu antagonista.Ao formular a pergunta dessa maneira, a tática da serpente foi lançar dúvida na mente de Eva quanto ao caráter de Deus.
DEIVY FERREIRA PANIAGO JUNIOR
24/5/2024
FONTES:
Kidner, Derek. Gênesis: introdução e comentário. Trad. Odayr Olivetti.São Paulo: Vida Nova, 2004.
http://www.biblecourses.com/Portuguese/po_lessons/PO_201507_02.pdf
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