(Texto Áureo) “Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano” (SaImo 32.2)
Salmo 32: O título do salmo é “Masquil de Davi”. Não é somente esse
título que prova que Davi escreveu este salmo gloriosamente evangélico, mas
também as palavras do apóstolo Paulo registradas em Romanos 4.6-8: "Assim
também Davi declara bem-aventurado o homem a quem Deus imputa a justiça sem as
obras, dizendo: Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas, e cujos
pecados são cobertos. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o
pecado”. É provável que esse arrependimento profundo do grande pecado que Davi
cometeu tenha sido seguido por tamanha paz feliz que ele foi levado a derramar
o espírito na música suave dessa canção seleta. Segundo a ordem histórica, este
Salmo vem depois do Salmo 51. O termo masquil consta no título de 13 Salmos, essa
palavra indica que este é um Salmo instrutivo ou didático. Sendo assim, este é
um Salmo didático, no qual Davi ensina os pecadores a arrependerem-se pela
doutrina, que os ensinou a pecar pelo exemplo. Essa ciência é universal e diz
respeito a todos os homens, a qual necessariamente todos temos de aprender. Hugo
Grócio opina que este Salmo foi composto para ser cantado no dia anual da
expiação judaica quando os judeus faziam uma confissão geral de pecados.
“Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa maldade, “
Cronologicamente essa é a segunda bem-aventurança dos perdoados nesse salmo
(V.1). No original hebraico, a palavra “bem-aventurado” está no plural:
Bem-aventurados indicando bênçãos duplicadas: “Em lugar da vossa vergonha
tereis dupla honra; e em lugar da afronta exultareis na vossa parte; por isso
na sua terra possuirão o dobro, e terão perpétua alegria “ (Isaías 61:7). A
não-imputação da maldade (Pecado, transgressão, iniquidade) é da mesma essência
do perdão. O crente peca, mas o pecado não lhe é considerado, nem levado em
conta. Paulo expressa: "Deus imputa a justiça sem as obras” (Romanos 4.6).
É realmente bem-aventurado aquele que tem um substituto para representá-lo em
cuja conta todas as suas dívidas são debitadas.
“...e em cujo espírito não há engano” Aquele que foi perdoado é em
cada situação ensinado a lidar honestamente consigo mesmo, com o seu pecado e
com o seu Deus. Quem não declararia todas as suas dívidas quando tivesse a
certeza de que elas seriam pagas por outra pessoa? Quem não diria qual é a sua
enfermidade quando estivesse certo da cura? A verdadeira fé não só sabe que
este engano é impossível diante de Deus, mas também que é desnecessário. Os
crentes não têm nada a esconder. Eles se veem na presença de Deus, despojados,
expostos e nus. Se aprenderam a ver-se como são, também aprenderam a ver Deus
como Ele se revela. Não há engano no espírito de quem é justificado pela fé,
porque, no ato da justificação, a verdade se estabeleceu no mais profundo do
coração. Não há engano no espírito daqueles que veem a verdade sob à luz da
verdade de Deus. Livre da culpa, livre do engano. Aqueles que são justificados
da falta são santificados da falsidade. O mentiroso não é uma alma perdoada. A
deslealdade, a falsidade, o engano, a trapaça, a dissimulação são
características dos filhos do Diabo. Mas aquele que é lavado do pecado é
verdadeiro, honesto, simples e inocente. Não pode haver bem-aventurança para os
malandros com os seus esquemas, truques, tramoias e fingimentos. Eles têm muito
medo de que alguém descubra que eles estão tranquilos. A sua casa está
construída à beira do vulcão, e o seu fim será a destruição eterna.
Apêndice: Certo dia, perguntaram a Lutero quais de todos os Salmos
eram os melhores. Esta foi a resposta que ele deu: “Psalmi Paulin”. Quando os
amigos insistiram para saber quais seriam estes, ele disse: “O Salmo 32, 51,
130 e 143, porque todos ensinam que o perdão dos pecados vem sem a lei e sem as
obras àquele que crê. É por isso que os chamo de Salmos Paulinos. Davi canta:
'Contigo está o perdão, para que sejas temido’, que é o que Paulo diz: Deus
encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia’
(Rm 11.32). Dessa forma, nenhum homem pode se vangloriar da própria justiça.
Estas palavras: Para que sejas temido’, pulveriza todos os méritos,
ensinando-nos a descobrir a cabeça diante de Deus e a confessar gratia est, non
meritum: remissio, non satisfactio, que significa ‘é mero perdão, sem nenhum
mérito.
DEIVY FERREIRA PANIAGO JUNIOR
15/05/2022
Fontes:
GOMES, Osiel. Os valores do reino de Deus – a relevância do
sermão do monte para a igreja de Cristo. Rio de Janeiro: Cpad, 2022.
SPURGEON, Charles. Os Tesouros de Davi – Volume I. Rio de
Janeiro: CPAD, 2017.