domingo, 20 de fevereiro de 2022

Lição 09 - As Histórias e as Poesias falam ao Coração - 1 Trimestre De 2022


(Texto Áureo) “Estou aflitíssimo; vivifica-me, ó Senhor, segundo a tua palavra. ” (SaImo 119.107)

O Salmo 119. Esse é um salmo por si mesmo, distinto de todos os outros; ele supera todos os outros e destaca-se por seu brilho nessa constelação. A composição dele é singular e muito precisa. Ele é dividido em vinte e duas partes, de acordo com o número de letras do alfabeto hebraico, e cada parte consiste de oito versículos, todos os versículos da primeira parte começam com álefe; todos os versículos do segundo, com bete e assim por diante, sem nenhuma falha em todo o salmo. Nessa passagem a letra hebraica em questão é “Nun”.

“Estou aflitíssimo; “ De acordo com o último versículo, ele tinha prestado juramento como soldado do Senhor, e neste versículo seguinte, ele é chamado para sofrer dificuldades nesta qualidade. O nosso serviço ao Senhor não nos isenta do juízo, mas na verdade o assegura para nós. O salmista era um homem consagrado, mas um homem punido, e suas punições não eram leves; pois parece que, quanto mais ele era obediente, mais era afligido. Evidentemente, ele sentia a vara ferindo-o profundamente, e isto ele alega, diante do Senhor. Ele fala, não como uma queixa ou murmuração, mas como um apelo; sim, devido à grande aflição em que se encontra, ele apela por uma vivificação. “

“...vivifica-me, ó Senhor, “ Como Deus nos vivifica? Fazendo reviver as nossas graças em meio ao sofrimento, como a nossa esperança, paciência e fé. Desta maneira, Ele nos injeta vida novamente, para que possamos prosseguir alegremente em nosso serviço, pela infusão de novas consolações. Ele vivifica o coração dos seus contritos, como diz o profeta (Is 57.15). Isto é muito necessário, pois o salmista diz, em outra passagem, “vivifica-nos, e invocaremos o teu nome” (SI 80.18, ARA). O desconforto e o desencorajamento enfraquecem as nossas mãos, e a invocação a Deus. A menos que o Senhor nos vivifique outra vez, não teremos vida na oração. De duas maneiras, em particular, Deus nos vivifica na aflição: vivificando a nossa percepção do seu amor, e vivificando a nossa esperança de glória.

”...segundo a tua palavra. ” Davi, quando pede a vivificação, é encorajado a fazê-lo, por causa de uma promessa. A pergunta é, qual será esta promessa? Alguns pensam que é a promessa geral da lei, “Fazendo-os o homem, viverá por eles” (Lv 18.5) e que, a partir daí, Davi chegou a esta conclusão particular, de que Deus vivificaria o seu povo. Mas, na verdade, foi alguma outra promessa, alguma palavra de Deus que ele havia recebido, que o respaldava nesta súplica. O Senhor faz muitas promessas a nós, de santificar a nossa aflição. O fruto de todas é tirar o pecado (Is 27.9); melhorar-nos e aperfeiçoar-nos (Hb 2.10), moderar a nossa aflição, e tirar o seu vento forte, no tempo do vento leste (Is 27.8); nos assegurar de que não permitirá que soframos mais do que nos capacitou a suportar (1 Co 10.13). Ele prometeu que irá atenuar a nossa aflição, de modo que não seremos tentados acima das nossas forças. Ele prometeu que irá nos resgatar das nossas aflições, que o cetro da impiedade não permanecerá sobre a sorte dos justos (SI 125.3), e que Ele estará conosco e não nos desamparará (Hb 13.5). Agora, o meu argumento é: se o povo de Deus conseguiu firmar o coração na palavra de Deus, quando tinha apenas indicações obscuras sobre as quais poderiam trabalhar, a ponto de não saberem exatamente onde estava a promessa, ah! Como os nossos corações deveriam estar firmes em Deus, quando temos tantas promessas! Tendo em vista que as Escrituras são ampliadas para o consolo e a dilatação da nossa fé, certamente deveríamos dizer, como Paulo, quando recebemos uma palavra: “Creio em Deus” (At 27.25); eu posso esperar que Deus fará isto por mim, uma vez que a sua palavra assegura isto em todas as partes.

 

DEIVY FERREIRA PANIAGO JUNIOR
20/02/2022

Fontes:

BAPTISTA, Douglas. A Supremacia das Escrituras – a Inspirada, Inerrante e Infalível Palavra de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.

SPURGEON, Charles. Os tesouros de Davi – Volume 3. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Lição 08 - A Lei e os Evangelhos revelam Jesus - 1 Trimestre De 2022


(Texto Áureo) “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. ” (Deuteronômio 6.4)

Esse versículo é conhecido como o “Shemá Israel” que se refere as duas primeiras palavras da seção da Torá que constitui a profissão de fé central do monoteísmo judaico é considerado um credo em sua forma embrionária na Bíblia. Os judeus os escrevem em seus filactérios, e se acham não apenas obrigados a recitá-los pelo menos duas vezes todos os dias, mas muito felizes por serem obrigados a isso, tendo esse provérbio entre si: Abençoados somos nós, que a cada manhã e a cada entardecer dizemos: Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Porém mais abençoados seremos se ponderarmos e aproveitarmos devidamente

Deus é um em essência ou natureza, subsistindo por Si mesmo; só o SENHOR é Deus: “Eu sou o SENHOR, e não há outro; fora de mim não há deus...” (Is 45.5). Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou o monoteísmo como parte do primeiro de todos os mandamentos: “... Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (Mc 12.29); “... com verdade disseste que há um só Deus, e que não há outro além dele” (Mc 12.32); “E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro...” (Jo 17.3).

O apóstolo Paulo declara: “Todavia para nós há um só Deus” (1 Co 8.6); “Ora o medianeiro não é de um só, mas Deus é um” (Gl 3.20); “Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos” (Ef 4.6). “Porque há um só Deus” (1 Tm 2.5). Foi o Senhor Jesus quem revelou Deus aos seres humanos por meio da Bíblia: Mt 11.27; Jo 1.18).

O Deus que Jesus revelou é o Deus de Israel e isso ele deixou claro ao pronunciar o primeiro e grande mandamento: “E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento” (Mc 12.29, 30). Essa é uma das várias declarações do Novo Testamento que ensina ser o cristianismo monoteísta. A declaração aqui é reveladora porque não deixa dúvida de que o Deus dos cristãos é o mesmo Deus de Israel, pois Jesus citou as palavras diretamente do Antigo Testamento (Dt 6.4-6).

A Trindade é uma doutrina com sólidos fundamentos bíblicos e, mesmo sem conhecer essa terminologia, os cristãos do período apostólico reconheciam essa verdade. Essa doutrina está implícita no Antigo Testamento, pois há declarações que indicam claramente a pluralidade na unidade de Deus (Gn 1.26; 3.22; 11.6, 7; Is 6.8). Apesar da ênfase da doutrina monoteísta como o shemá: “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR” (Dt 6.4) reafirmada pelo Senhor Jesus (Mc 12.29), o Antigo Testamento mostra que a unidade de Deus não é absoluta. O Novo Testamento revela que essa pluralidade se restringe ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo (Mt 28.19; 1 Co 12.4-6; 2 Co 13.13; Ef 4.4-6; 1 Pe 1.2).

Há ainda várias passagens tripartidas no Novo Testamento que revelam a Trindade (Lc 24.49; Rm 1.1-4; 5.1-5; 14.17, 18; 15.16, 30; 1 Co 6.11; 2 Co 1.20, 21; Gl 3.11-14; Ef 1.17; 2.18-22; 3.3-7, 14-17; 1 Ts 5.18). Além das declarações bíblicas apresentadas aqui, há outras evidências contundentes que fundamentam essa doutrina. Cada uma dessas Pessoas é chamada individualmente de Deus e Senhor. O Deus do cristianismo é um (Gl 3.20), mas as Escrituras ensinam também que o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus. A Bíblia aplica o nome “Deus” ao Pai sozinho (Fp 2.11), da mesma forma ao Filho (Jo 1.1) e ao Espírito Santo (At 5.3, 4); e, na maioria das vezes, com referência à Trindade (Dt 6.4). Isso também ocorre com o Tetragrama (as quatro consoantes do nome divino YHWH), que se aplica ao Pai sozinho (Sl 110.1), ao Filho (Is 40.3; Mt 3.3) e ao Espírito Santo (Ez 8.1,3). No entanto, aplica-se também à Trindade (Sl 83.18). Salta à vista de qualquer leitor da Bíblia a divindade plena e absoluta de cada uma dessas Pessoas. Foi assim que o Espírito revelou a unidade na Trindade. A doutrina da Trindade não neutraliza, nem contradiz a doutrina da Unicidade e nem a doutrina da Unicidade anula a Trindade.

DEIVY FERREIRA PANIAGO JUNIOR
14/02/2022

Fontes:

BAPTISTA, Douglas. A Supremacia das Escrituras – a Inspirada, Inerrante e Infalível Palavra de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico – Pentateuco. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

SOARES, Esequias. A razão de nossa fé: assim cremos, assim vivemos. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.

SOARES, Esequias. Manual de apologética cristã: Defendendo os fundamentos da autêntica fé bíblica. Rio de Janeiro: CPAD, 2002. 

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Lição 07 - A Bíblia transforma as pessoas- 1 Trimestre De 2022


(Texto Áureo) “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. ” (Hebreus 4.12)

 “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz...” 1) A palavra de Deus é Viva. O Comentário Esperança descreve que “viva é a Palavra de Deus, porque jorra da fonte de toda a vida, que jamais seca (Sl 36.10) e é capaz de infundir nova vida nos corações humanos (Jo 6.63; 1Pe 1.23-25; Is 40.8)”. Donald Guthrie argumenta “que a Palavra é viva e demonstra que reflete o caráter verdadeiro do próprio Deus, a fonte de toda a vida”. 2 Em suma, a “Palavra é viva” pois o Deus da Palavra é um “Deus vivo” (Hb 3.12; 9.14; 10.31; 12.22). 2) A palavra de Deus é Eficaz. A afirmação de que a Palavra de Deus é “eficaz” ecoa Isaías 55:11, em que o profeta declarou que a “palavra” de Deus não volta para Ele “vazia”, mas faz o que Ele deseja que ela faça. Uma vez que nada pode ser ocultado de Deus, é apropriado que Ele tenha designado o evangelho para atingir cada parte do nosso ser e expor as nossas deficiências. A Palavra de Deus, pelo seu próprio caráter exige uma resposta autêntica por parte daqueles que a escutam, ela é cheia de poder para alcançar resultados. Quando Deus a faz agir pelo seu Espírito, ela convence poderosamente, conforta poderosamente. Ela é tão forte que derruba as fortalezas (II Co 10.4-5)

“...e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, ” A comparação da Palavra de Deus como uma espada é de emprego frequente na Bíblia Sagrada (Ef 6.17; Ap 1.16; 2.12; 19.13-15). O uso figurado da espada de dois gumes simboliza que a Palavra de Deus é tão bem afiada que nada existe que ela não possa transpassar. Simon Kistemaker adverte que “o simbolismo transmite a mensagem de que o julgamento de Deus é severo, justo e terrível. Deus tem o poder supremo sobre suas criaturas; aqueles que se recusam a escutar sua Palavra enfrentam julgamento e morte, enquanto aqueles que obedecem a ela entram no descanso de Deus e têm vida eterna”. 7 Implica dizer que a raça humana será julgada pela autoridade da Palavra de Deus. À Igreja em Pérgamo, o Senhor ordenou o arrependimento sob pena do juízo pela espada da Sua boca (Ap 2.16). Assim sendo, nenhuma resistência humana consegue impedir a ação da espada do Espírito (Ef 6.17).

“...e penetra até à divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, ” O termo “penetrar” só ocorre aqui em Hebreus. É uma ideia de Lucas, equivalente a “atingir o âmago” (Atos 5:33; 7:54). O poder “penetrante” do evangelho é visto em Atos 2:36–38. Por causa do que seu público “ouviu”, “compungiu-se” o coração de muitos. A mensagem do evangelho trouxe convicção. Ela penetra e atinge o âmago de nosso interior, examina os segredos obscuros e revela o nosso verdadeiro caráter; ainda expõe os desejos de nossa alma e os conflitos entre o nosso espírito e a carne (Gl 5.17). O “espírito” (pneuma) e a “alma” (psiche) são distintos ou são sempre meras variações da mesma coisa? Às vezes é difícil distingui-los: perder a “alma” espiritualmente não é o mesmo que perder o espírito (Mateus 16:26)? Todavia, dizemos que uma “alma” falece, e não que um “espírito” falece. Na cruz Jesus entregou Seu “espírito” (pneuma) ao Pai (Lucas 23:46), e não a Sua “alma”. Primeira Tessalonicenses 5:23 deixa implícita a natureza tríplice do ser humano. Todavia, as tentativas de se fazer uma distinção entre alma e espírito geralmente parecem fabricadas. A Palavra de Deus pode separar a alma do espírito como uma espada pode separar as juntas e medulas, ou seja, as partes mais secretas e íntimas do corpo. Podemos nos referir apropriadamente, como faz Hebreus, ao “corpo”, à “alma” e ao “espírito” de uma pessoa. Independentemente do que esses termos denotam para nós, sabemos que Deus salvará a pessoa integralmente – dando-lhe um novo corpo espiritual que será salvo eternamente.

“...e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. ” O termo grego “kardia”, traduzido como “coração”, é usado figurativamente para se referir às fontes ocultas da vida pessoal. Em seu significado moral, inclui as emoções, a razão e a vontade. No livro aos Hebreus, o termo é aplicado tanto no sentido negativo como positivo. Negativamente, o coração pode ser “endurecido” (Hb 3.8,15; 4.7); pode “errar” ou “desviar-se” (Hb 3.10); e ser “mau e infiel” (Hb 3.12). Positivamente, a lei de Deus pode ser “escrita no coração” (Hb 8.10; 10.16); o coração pode ser “purificado da má consciência” (Hb 10.22); e, ainda, o coração pode ser “fortalecido pela graça” (Hb 13.9). Flanigan elucida que, no texto em questão, a Palavra de Deus “tem habilidade para julgar todo movimento e sentimento do coração. Ela pode julgar nossos pensamentos antes deles se tornarem palavras, e nossas intenções antes delas se tornarem ações”.

 

DEIVY FERREIRA PANIAGO JUNIOR
08/02/2022

Fontes:

BAPTISTA, Douglas. A Supremacia das Escrituras – a Inspirada, Inerrante e Infalível Palavra de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.

LAUBACH, Fritz. Carta aos hebreus: comentário esperança. Curitiba: Editora Esperança, 2000.

GUTHRIE, Donald. Hebreus: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1999.

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento: Hebreus. São Paulo: Cultura Cristã, 2003

FLANIGAN, J. M. Comentário Ritchie do Novo Testamento: Hebreus. Ourinhos: Edições Cristãs, 2001.

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico – Atos a Apocalipse. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

ROPER, David. A Verdade para Hoje, 2019. Disponível em: < http://biblecourses.com/Portuguese/po_lessons/PO_201403_09.pdf >. Acesso em 10 fev.2022.

domingo, 6 de fevereiro de 2022

FAECAD - DOUTRINAS CLÁSSICAS PENTECOSTAIS NO SÉC. XXI - CERTIFICADO DE PARTICIPAÇÃO GRATUITO


CONFERÊNCIA ACADÊMICA FAECAD - DOUTRINAS CLÁSSICAS PENTECOSTAIS NO SÉC. XXI


CERTIFICADO DE PARTICIPAÇÃO GRATUITO


Data: 09, 10 e 11 Fevereiro de 2022
Palestrantes: Dr. Esdras Bentho, Pr. Elinaldo Renovato e Pr. Elienai Cabral

Horário: 19h
Local: Facebook e Youtube

🌐 Se inscreva pelo link https://tinyurl.com/yc3pcbzn

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

O Desenvolvimento do Cânon Cristão


        Essa história é extremamente complicada e não poderá ser narrada com muitos pormenores aqui. E, na verdade, uma história controvertida e discutível. Qualquer tentativa de recontá-la será forçosamente alvo de críticas de pessoas com prometidas com um a versão diferente. Apesar disso, o esboço e os acontecimentos básicos dessa história serão o tópico do restante do presente capítulo. 

        Os próprios apóstolos usavam a Bíblia hebraica e certamente consideravam-na autorizada. Embora muitos escritos judaicos existissem nos tempos de Jesus e dos apóstolos, o cânon das Escrituras hebraicas era relativamente fixo e claro. O partido dos fariseus dominava as sinagogas judaicas e, depois da destruição do templo em Jerusalém em 70, procurou reformar o judaísmo de modo que pudesse existir por tempo ilimitado na diáspora (no exílio da Palestina) sem um templo. Uma parte desse processo foi a definição formal das Escrituras inspiradas do judaísmo. Embora exista certa divergência no tocante ao Concílio de Jâmnia, onde os rabinos se encontraram em 90, parece que foram dados ali alguns passos importantes em direção ao processo oficial da canonização. A Bíblia hebraica ficou definida com vinte e dois livros inspirados: desde o Pentateuco até aos Profetas Menores. Nas Bíblias cristãs posteriores, alguns livros do cânon judaico foram subdivididos, perfazendo um total de trinta e nove livros individuais. A versão grega das Escrituras hebraicas, que é chamada Septuaginta, ou LXX, continha todos eles, bem com o alguns livros escritos depois de Malaquias, que são principalmente de relevância histórica. Estes incluem os livros dos Macabeus e outros livros chamados (pelos cristãos) de interbíblicos ou apócrifos. A maioria dos primeiros pais da igreja no século II empregava a Septuaginta, assim com o Paulo e outros apóstolos. Mas, para fazer suas citações, quase sempre usavam os vinte e dois livros canônicos e raramente os livros históricos e apócrifos posteriores. 

        De modo geral, portanto, podem os dizer com segurança que a maioria dos primeiros pais da igreja nos séculos II e III aceitavam a decisão dos líderes judaicos de ampliar o conteúdo das Escrituras inspiradas para além do Pentateuco (Gênesis até Deuteronômio) e restringi-lo aos vinte e dois (ou trinta e nove) livros da Lei e dos Profetas. Esta, portanto, era “a Bíblia” das primeiras igrejas cristãs depois dos apóstolos. Na época de Clemente de Roma e dos demais pais apostólicos, as cartas dos apóstolos e os Evangelhos considerados de autoria dos apóstolos, ou de seus colegas mais íntimos, foram reunidos e chamados “Apóstolos”, justapondo-os com os “Profetas” da Bíblia hebraica. Sendo assim, já antes do ano 200, vários pais e bispos da igreja estavam se referindo a um a coletânea de escritos inspirados e autorizados conhecidos por “os Profetas e os Apóstolos” e tratando essa massa amorfa com o um critério e norma de verdade para a fé e prática cristãs. No entanto, ainda não existia nenhum equivalente cristão da Bíblia hebraica que tivesse o reconhecimento oficial ou fosse unanimemente aceito. 

        Os estudiosos em geral concordam , mais um a vez, que a igreja deve muita coisa a um herege. Segundo um grande historiador eclesiástico: “A idéia e a realidade de um a Bíblia cristã foram obra de Marcião e a Igreja, que rejeitou a sua obra, longe de estar adiante dele nesse campo, do ponto de vista formal, simplesmente seguiu o seu exemplo”. Marcião foi um mestre cristão de grande influência em Roma em meados do século II. Apesar da longa distância que os separava geograficamente, Marcião e Montano eram contemporâneos e tinham certas características em comum . Embora a teologia de Marcião estivesse mais próxima a algumas formas do gnosticismo, ele, da mesma forma que Montano, considerava que a igreja necessitava urgentemente de um a reforma e pôs mãos à obra para reformá-la, tentando redescobrir e promover o que considerava o ensino verdadeiro e original de Jesus. Para tanto (segundo Marcião acreditava), seria necessário remover do cristianismo todos os vestígios do judaísmo, inclusive a Bíblia hebraica e seu Deus, Iavé. Para ele, o AT não tinha a mínima validade para os cristãos e o Deus descrito nele era um semideus tribal sanguinário que não merecia a adoração ou culto dos cristãos. As semelhanças entre Marcião e o gnosticismo aparecem na sua idéia de que o Deus do AT criou, erradamente, a matéria, e que a matéria é a origem do mal. Para Marcião, o Iavé do AT era mais demoníaco do que divino. 

        Marcião foi, talvez, o primeiro cristão que tentou definir um cânon cristão das Escrituras inspiradas e quis limitá-lo exclusivamente aos escritos dos apóstolos que considerava livres de qualquer vestígio do judaísmo. A Bíblia de Marcião constituía-se de duas partes: uma versão editada do evangelho segundo Lucas e dez epístolas de Paulo. Até mesmo o “apóstolo” foi editado por Marcião para livrar as dez epístolas de todos dos “elementos judaizantes”. 

        Marcião e sua versão antijudaica das Escrituras cristãs tiveram rápida aceitação entre alguns cristãos, e igrejas marcionitas foram surgindo de repente em Roma, Cartago, e em outras cidades. Os pais e bispos principais da igreja atacaram com  severidade Marcião e seus seguidores. A obra de Tertuliano Contra Marcião é um excelente exemplo da polêmica cristã antimarcionita na época da virada do século (201). Ireneu, também , criticou Marcião e os seus ensinos, em Contra heresias, e outros pais da igreja dos séculos II e III fizeram o mesmo. Alguns cristãos da antiguidade claramente consideravam Marcião como o arqui-herege e principal inimigo do cristianismo ortodoxo e católico. Apesar disso, igrejas marcionitas sobreviveram em cidades de todas as partes do império, até serem fechadas pelos primeiros imperadores cristãos. 

        Uma das reações ao cânon das Escrituras cristãs truncado por Marcião foi criar o cânon correto e a primeira tentativa semi-oficial aconteceu em Roma. Por volta de 170, a igreja cristã de Roma criou o Cânon muratório para rebater o de Marcião e fornecer aos cristãos um a lista completa de “Profetas e Apóstolos” autorizados. O Cânon muratório alistava os quatro evangelhos, Atos e os demais livros contidos no NT (conforme a definição que existe ainda hoje), à exceção de Hebreus, Tiago e I e II Pedro. Incluía, ainda, A sabedoria de Salomão, mas notavelmente excluía o sempre popular e influente O pastor de Hermas. O Cânon muratório representa um passo crucial no desenvolvimento da vida organizacional oficial da igreja cristã: foi a primeira tentativa de identificar um a lista definitiva de escritos cristãos com o mesmo nível da Bíblia hebraica. Embora essa lista não seja a da versão definitiva, certamente contribuiu para o pensamento cristão ficar tomado pela idéia de um a Bíblia cristã e deixou claro que não excluiria as Escrituras hebraicas, nem estaria aberta para incluir toda e qualquer nova profecia ou escrito supostamente inspirado. 

        Os critérios exatos usados pelos que com puseram o Cânon muratório não são conhecidos com clareza. Na verdade, sempre houve debates a respeito dos principais critérios nos quais a igreja poderia se basear para reconhecer certos escritos com o autorizados e inspirados. O historiador eclesiástico von Campenhausen está mais perto da verdade ao chamar o critério principal de “princípio profético apostólico”. Essa não é um a regra rígida, mas uma medida flexível mediante a qual os escritos eram julgados pelos cristãos primitivos envolvidos nesse processo. O princípio profético-apostólico significa simplesmente que os livros e as cartas precisavam ser amplamente reconhecidos por todas as igrejas cristãs com o um a reflexão da autoridade apostólica (se não tiverem sido escritos por um apóstolo) e com o um a apresentação de verdades importantes para a salvação e o viver cristão. Isto é, qualquer obra que entrasse no cânon, tinha de ser produto do “cristianismo primitivo” e ser amplamente usada com o guia útil para ensinar c viver o cristianismo. 

        Os pais da igreja, com o Ireneu, Tertuliano e Orígenes, criaram suas listas de Escrituras cristãs que, de certa forma, variavam um pouco do Cânon muratório e entre si. Ireneu alistou os quatro evangelhos e a maioria das epístolas posteriormente canonizadas, que tratava claramente com o Escrituras inspiradas e autorizadas. Rejeitou os evangelhos dos gnósticos e o cânon truncado de Marcião. Pouco depois de Ireneu, Tertuliano seguiu os mesmos moldes, assim como Orígenes. Tanto Tertuliano como Orígenes consideravam certos escritos cristãos verbalmente inspirados como as Escrituras hebraicas e usavam-nos para dirimir controvérsias doutrinárias. Nos escritos deles, vem os o conceito implícito de um NT ao lado das Escrituras hebraicas — o AT — na forma de tratarem os escritos que consideravam profético-apostólicos e autorizados. Existia, no entanto, um a certa diferença entre eles, pois Tertuliano tratava o cânon de forma categórica, enquanto Orígenes reconhecia um conjunto de escritos cristãos como duvidosos, porém úteis. 

        De acordo com von Campenhausen: “E inegável que, tanto o Antigo Testamento com o o Novo, já tinham em essência chegado à sua forma e ao seu propósito finais por volta do ano 200”. Essa declaração talvez pareça um pouco otimista diante das discrepâncias entre as listas de Escrituras cristãs fornecidas por Tertuliano e Orígenes, escritas aproximadamente naquela data e pouco depois. Entretanto, não deixa de ser verdade a afirmação de von Campenhausen, mormente em relação aos que relegariam a um a data muito posterior toda a idéia de um NT e Bíblia cristãos. Não se pode ler Ireneu, Tertuliano ou Orígenes sem notar sua devoção e submissão aos escritos que consideravam especialmente inspirados e autorizados para os cristãos. E, apesar de algum as diferenças, as listas apresentavam muitas coincidências. 

        Os principais debates a respeito de quais escritas deviam ser incluídas no cânon cristão das Escrituras giravam em torno de Hebreus, 1 e 2 Pedro, Judas, 3 João, Apocalipse, Tiago e o Didaquê, O pastor de Hérmas e a Epístola de Barnabé. Alguns pais da igreja primitiva, bem com o algumas congregações, tratavam até mesmo l Clemente com o parte das Escrituras. Paulatinamente, no entanto, foi-se chegando ao consenso de que todos os escritos da primeira lista — de Hebreus a Tiago — deviam ser incluídos por causa do seu amplo uso em todas as igrejas cristãs (embora alguns fossem totalmente desconhecidos em algum as igrejas) e por causa da sua ligação com os apóstolos. Judas foi aceito finalmente, segundo parece, somente por causa da tradição amplamente aceita de que o autor era irmão de Jesus. As obras da segunda lista mencionada (de Didaquê à Epístola de Barnabé) foram rejeitadas, a despeito de algum as igrejas e pais da igreja que as consideravam inspiradas, porque careciam da qualidade profético-apostólica essencial e de ligação com o cristianismo primitivo. 

        Os passos finais do processo formal de canonização e criação do NT foram dados, posteriormente, no século IV. A primeira lista contendo somente os vinte e sete livros, de Mateus ao Apocalipse, e mais nenhuma foi criada por Atanásio, bispo de Alexandria e principal defensor da ortodoxia, na sua carta pascal às congregações cristãs do Egito em 367. O texto de Atanásio não dá a menor impressão de que apresentava qualquer idéia nova. Pelo contrário, parece querer estabelecer a tradição normalmente aceita. Dois sínodos foram convocados na África do Norte, em Hipona e em Cartago, em 393 c 397 respectivamente. Os dois declararam a lista de Atanásio com o definitiva e autorizada. A partir de então, a questão do NT estava resolvida. Em parte porque, naturalmente, os sínodos recebiam o apoio imperial e porque a igreja do fim do século IV tinha o poder do imperador para reprimir dissensões e impor a conformidade. Não obstante, o NT, conforme foi identificado e oficializado nos sínodos, resistiu às vicissitudes do tempo e é acolhido com júbilo com o definitivo e final por todas as ramificações do cristianismo desde então. A única grande controvérsia gira em torno do AT e de se ele deve incluir os apócrifos e, nesse caso, que autoridade os livros ali incluídos devem ter para os cristãos. 

        A igreja cristã “organizou-se” por volta do ano 300. Naquela época, já existia um a catedral cristã próxima ao palácio imperial em Nicomédia e a paisagem do império estava marcada por basílicas. Os bispos governavam com autoridade sobre as igrejas, a liturgia cristã padronizava-se, existia um credo para avaliar a ortodoxia e, para todos os fins práticos, a igreja tinha sua Bíblia autorizada. Sínodos de bispos reuniam -se ocasionalmente para dirimir disputas. Um sistema penitencial estava sendo desenvolvido para determinar com o deveria ser avaliado o arrependimento de cristãos desobedientes. A Grande Igreja estava crescendo, altamente estruturada e formalizada. Só lhe faltava poder político para impor sua ortodoxia aos cismáticos que alegavam ser cristãos, mas que não seguiam o cristianismo católico e ortodoxo. Esse poder não demoraria a aparecer, na pessoa do imperador Constantino, o Grande, que se “converteu” ao cristianismo católico em Rom a entre os anos de 311 e 313. Entretanto, a maior ameaça à unidade cristã e talvez ao próprio evangelho viria, não da parte das seitas heréticas e cismáticas, nem dos inimigos fora da Grande Igreja, mas de dentro da própria igreja. O cristianismo suportou muitas tempestades nos dois séculos após a morte do último dos apóstolos, mas ainda estava para enfrentar o maior furacão doutrinário de todos, o Arianismo.

Fonte:

OLSON, Roger E. História da Teologia Cristã - 2000 anos de tradições e reformas. São Paulo: Editora Vida, 2001.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Lição 06 - A Bíblia como um Guia para a Vida - 1 Trimestre De 2022


(Texto Áureo) “Lâmpada para os meus pés é tua palavra e luz, para o meu caminho. ” (Salmo 119.105)

O Salmo 119. Esse é um salmo por si mesmo, distinto de todos os outros; ele supera todos os outros e destaca-se por seu brilho nessa constelação. A composição dele é singular e muito precisa. Ele é dividido em vinte e duas partes, de acordo com o número de letras do alfabeto hebraico, e cada parte consiste de oito versículos, todos os versículos da primeira parte começam com álefe; todos os versículos do segundo, com bete e assim por diante, sem nenhuma falha em todo o salmo. Nessa passagem a letra hebraica em questão é “Nun”.

“Lâmpada para os meus pés é tua palavra...” Nós somos andarilhos pela cidade deste mundo, e frequentemente temos que sair e entrar nas trevas; jamais devemos nos aventurar ali sem a palavra que ilumina, para não escorregarmos. Cada homem deve usar a palavra de Deus pessoalmente, praticamente e habitualmente, para que possa ver o seu caminho e o que há nele. Quando as trevas se instalam ao meu redor, a palavra do Senhor, como uma tocha ardente, revela o meu caminho. Uma vez que, antigamente, nas cidades orientais não havia lâmpadas fixas, cada passageiro carregava consigo uma lâmpada para que não caísse no esgoto aberto, nem tropeçasse nas pilhas de lixo que poluíam a estrada. Este é um verdadeiro retrato do nosso caminho por este mundo sombrio: nós não conheceríamos o caminho, nem andaríamos por ele, se as Escrituras, como uma tocha ardente, não o revelasse. Um dos benefícios mais práticos dos Textos Sagrados é a orientação nos atos da vida diária; esta tocha não é enviada para nos assombrar com seu brilho, mas para nos orientar com a sua instrução. É verdade que a cabeça precisa de esclarecimento, mas ainda mais os pés precisam de orientação, caso contrário tanto a cabeça como os pés poderão cair em uma cova. Feliz é o homem que se apropria pessoalmente da palavra de Deus, e a usa, praticamente, como seu consolo e conselheiro - uma lâmpada para os seus próprios pés.

“...e luz, para o meu caminho. ”  É uma lâmpada durante a noite, uma luz durante o dia, e um prazer, em todos os momentos. Davi guiou seus próprios passos por ela, e, graças aos seus raios, também viu as dificuldades do seu caminho. Aquele que anda nas trevas, mais cedo ou mais tarde, certamente irá tropeçar; ao passo que aquele que anda sob a luz do dia, ou com a lâmpada à noite, não tropeça, mas conserva a sua firmeza. A ignorância é dolorosa, nos aspectos práticos: ela gera indecisão e suspense, e estas coisas são desconfortáveis: a palavra de Deus, transmitindo conhecimento celestial, conduz à decisão, e quando é seguida com resolução determinada, como neste caso, traz consigo grande tranquilidade para o coração. Este versículo dialoga com Deus, em um tom de adoração e, apesar disto, familiar. Nós não temos alguma coisa com este mesmo teor para dirigir ao nosso Pai Celestial? Observe como este versículo é semelhante ao primeiro versículo do primeiro conjunto de oito, e também ao primeiro versículo do segundo e do terceiro conjuntos. Os segundos versículos de cada conjunto também são semelhantes entre si.

A lâmpada é usada durante a noite, ao passo que a luz do sol brilha durante o dia. Seja dia ou noite conosco, claramente nós compreendemos o nosso dever, pela Palavra de Deus. A noite significa adversidade, e o dia, a prosperidade. Consequentemente, podemos aprender como nos comportar em todas as condições. A palavra “caminho” indica a nossa escolha e o curso da vida; a palavra “p és”, os nossos atos em particular. Quer a questão com que devemos ser informados diga respeito à nossa escolha do caminho que conduz à verdadeira felicidade, ou à nossa hábil busca do caminho, a palavra de Deus ainda irá orientar uma mente humilde e bem disposta. - Thomas Manton.

 

DEIVY FERREIRA PANIAGO JUNIOR
02/02/2022

Fontes:

BAPTISTA, Douglas. A Supremacia das Escrituras – a Inspirada, Inerrante e Infalível Palavra de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.

SPURGEON, Charles. Os Tesouros de Davi – Volume II. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico – Livros Poéticos. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.