“Ora, naqueles dias, crescendo o número dos discípulos,”
A igreja, mesmo perseguida pelas autoridades, crescia cada vez mais rapidamente. Essa igreja iniciou com o número de 120 irmãos segundo o testemunho de Lucas (Atos 1.15). Após o primeiro sermão pentecostal pregado por Pedro agregaram-se quase 3000 almas (Atos 2.41). Após a cura do coxo da porta formosa Lucas escreve que o número dos que creram chegou a quase cinco mil. Após a morte de Ananias e sua esposa Safira: “a multidão dos que criam no Senhor, tanto homens como mulheres, crescia cada vez mais” (Atos 5.14).
Por um lado, sim, multiplicou-se o número dos discípulos. Por outro, a excitação do crescimento da igreja foi abafada por uma lamentável "queixa expressa em murmuração".
“... houve uma murmuração dos gregos contra os hebreus,”
Havia dois grupos na igreja de Jerusalém, um chamado helenista e o outro hebreu. Normalmente, supõe-se que o fator que diferenciava um grupo do outro era uma mistura de geografia e língua. Ou seja, os helenistas vinham da dispersão, tinham se estabelecido na Palestina e falavam grego, enquanto que os hebreus eram nativos da Palestina e falavam o aramaico. Mas essa explicação pode ser imprecisa. Já que Paulo se chamou de hebreu, apesar de ter vindo de Tarso e falar grego, a distinção deve estar na cultura, e não apenas na origem e língua.
O primeiro de judeus helenistas murmurava contra os hebreus porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária. Nada indica que esse esquecimento fosse proposital ("as viúvas hebréias estavam recebendo um tratamento preferencial"); a causa provável era uma falha na administração ou supervisão.
O verbo empregado para murmuração é o mesmo empregado na Septuaginta para expressar a "murmuração" dos israelitas contra Moisés, e é evidente que os membros da igreja de Jerusalém estavam murmurando contra os apóstolos, que recebiam o dinheiro das contribuições (Atos 4:35, 37). Esperava-se, portanto, que o distribuíssem eqüitativamente. Todavia tal murmuração não é adequada para um cristão.
“... porque as suas viúvas eram desprezadas no ministério cotidiano.”
Uma mulher viúva no AT, ao que parece, ficava desprotegida e seu único amparo era dos filhos e dos parentes mais próximos. Deus afirma que se a viúva for oprimida socialmente, ele sairá em defesa dela e também do órfão (Êxodo 22.22-24).
Deus se apresenta como o protetor das viúvas, dos órfãos e dos peregrinos e estrangeiros: "que faz justiça ao órfão e à viúva e ama o estrangeiro, dando-lhe pão e vestes" (Deuteronômio 10.18; SaImos 146.9). Tiago escreve que um sinal da verdadeira religião é amparo as viúvas: “A religião pura e imaculada para com Deus e Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo” (Tiago 1.27).
Paulo também se preocupava com a questão das viúvas e com a grande demanda orientou Timóteo a priorizar as viúvas que realmente são viúvas. Não que haja viúvas falsas, mas que sempre há viúvas que podem ser amparadas por sua própria família: “Honra as viúvas que verdadeiramente são viúvas. Mas, se alguma viúva tiver filhos, ou netos, aprendam primeiro a exercer piedade para com a sua própria família, e a recompensar seus pais; porque isto é bom e agradável diante de Deus” (1 Timóteo 5.3-4).
Por elas não serem em sua maioria capazes de ganhar o próprio sustento e não possuir parentes que as sustentassem, a igreja assumiu essa responsabilidade, fazendo-se a distribuição diária de comida entre elas. Mas, com a falta de organização, as viúvas do grupo de língua grega foram negligenciadas pelos judeus, de língua hebraica, que eram a maioria. Humanamente falando, havia ali uma base para um futuro rompimento entre os grupos.
DEIVY FERREIRA
PANIAGO JUNIOR
14/05/2024
FONTES:
PEARLAM, Myer. Atos – E a igreja se fez missão. Rio de Janeiro: Cpad, 1995.
STOTT, John R. W. A Mensagem de Atos: Até aos Confins da Terra, São Paulo: ABU, 1994.
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