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sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Visão Panorâmica dos Apócrifos

Canonicidade dos apócrifos

        Sobre o problema da canonicidade dos apócrifos, o padre José Carlos Rodrigues afirma: 

       Assim, a primeira versão latina da Bíblia (Itália) feita da LXX [Septuaginta] continha, segundo a opinião dos melhores críticos, todos os apócrifos exceto III e IV Macabeus, mas acrescentou-lhe IV Esdras, que corria em separado. Na versão de Jerônimo do original hebraico ele excluiu, está visto, os apócrifos, cingindo-se aos 22 livros daquele códice. Mais tarde, disse porém (no seu Prol. dos Liv. de Sal.) que “como a igreja lê Judite e Tobias e os livros Macabeus, apesar de não recebê-los no Cânon das suas  Escrituras, também deve ler estes dois livros (Sabedoria e Eclesiástico) para mera edificação, não para confirmação dos dogmas da mesma igreja”. 

        Depois dessa concessão, não é de admirar que todos os apócrifos fossem obtendo reconhecimento geral. Nos concílios de Hipo ou Hipona (393) e Cartago (397), dominados por Agostinho, foram reconhecidos como canônicos Tobias, Judite, 1Macabeus, 2Macabeus, Sabedoria e Eclesiástico. Até o Concílio de Trento, em 1546, grandes autoridades eclesiástica dos católicos romanos ainda se manifestavam contra a canonicidade dos apócrifos, bastando citar Tomás de Aquino, no século XIII. Trento, porém, admitiu como canônicos 3Esdras, 4Esdras, Tobias, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, 1Macabeus e 2Macabeus, bem como os acréscimos a Ester e Daniel. Dos chamados apócrifos, que corriam, o concílio só excluiu o 3Macabeus e 4Macabeus.

     Para nós, todos os “apócrifos” ou “deuterocanônicos” estão no mesmo plano, isto é, são extrabíblicos e não são inspirados. A literatura apócrifa é pouco reconhecida. “O seu estudo nos fascina”, afirma o padre José Carlos Rodrigues, “por apresentar-nos as ideias que flutuavam no judaísmo, quando dele nasceu o cristianismo”. Em nosso estudo, a literatura apócrifa vem ao nosso auxílio fornecendo-nos dados históricos e mostrando-nos o ambiente do Período Intertestamentário.

Eis abaixo um panorama dos apócrifos mais famosos:

3Esdras

Na Septuaginta, os livros canônicos de Esdras e Neemias são designados respectivamente 1Esdras e 2Esdras. Os livros de 3Esdras e 4Esdras correspondem aos apócrifos e são ali chamados Esdras A e Esdras B. O livro relata a história de Josias quando celebrou a Páscoa; menciona as realizações dos últimos reis de Judá; alude ao decreto de Ciro, à carta dos samaritanos a Artaxerxes, às ordens de Damasco, ao triunfo de Zorobabel, à reconstrução do templo de Jerusalém e de sua dedicação ao Senhor, à chegada de Esdras na Cidade Santa com sacerdotes e levitas e à leitura da Lei de Moisés em 444 a.C. O autor desse “apócrifo” inverte a ordem dos reis persas e dificulta a inteligibilidade de alguns passos históricos. O que caracteriza o livro é a história de três rapazes e a vitória de Zorobabel, que, segundo José Carlos Rodrigues, são verdadeiros contos orientais, à semelhança de “Noites árabes”. Aparece no livro um debate sobre “Qual a coisa mais bela?” Há também outras histórias hilariantes.

4Esdras

Afirma-se que tenha sido escrito em grego e depois traduzido para o latim, mas até hoje só foi encontrada a parte latina. O que levou muitos críticos a essa conclusão foi o número absurdo de helenismos presentes na obra. Atribui-se que o livro tenha sido escrito nos dias do imperador Domiciano (81-96 d.C.). Parte do livro baseia-se nas tradições judaicas e partes em tradições cristãs. Consta sobretudo de uma série de revelações a Esdras concedidas por um anjo. O judaísmo é apresentado nessas revelações em seus melhores aspectos. 

  • 1. Primeira visão (3.1—5.20). Esdras está sentado em Jerusalém, 30 anos depois de sua destruição. O vidente chora ante as ruínas da grande cidade e ante o opróbrio de seu povo, humilhado no exílio. Nesses momentos de tristezas, aparece-lhe o anjo Uriel, que o censura, dizendo-lhe que a maldade deve permanecer algum tempo, do mesmo modo como as almas no inferno têm o seu tempo de ali permanecerem.
  • 2. Segunda visão (5.21—6.34). Esdras queixa-se. O mesmo anjo lhe aparece. Desta vez para lhe dizer que o “fim” está próximo e quem o trará é o próprio Criador. 
  • 3. Terceira visão (6.35—9.25). O anjo Uriel explica a Esdras que quando o fim do mundo estiver iminente, cujos sinais já lhe foram concedidos, Deus enviará o seu Filho Unigênito com a corte de sua Majestade. Haverá então um período de 400 anos de alegria completa. Findo esses anos, o Filho e os seus escolhidos morrerão. Segue-se a ressurreição, para o juízo, cujo tempo é de um ano-semana. Nessa ocasião, haverá separação entre bons e maus. Como severo castigo, não haverá mais tempo para arrependimento. Ninguém poderá interceder pelos maus. Diante disso, o vidente lastima que tão poucos se salvem, ao que o anjo lhe retruca: “... os únicos culpados desse estado de perdição foram eles mesmos que escolheram o caminho da impiedade”.
  • 4. Quarta visão (9.26—10.60). Esdras continua a se queixar. Levantando porém os olhos, vê uma mulher, cujo único filho concebido após 30 anos de esterilidade morrerá à espada quando a cidade for destruída. Ele morrerá exatamente no dia em que se casaria. A mulher levanta o rosto e grita; a terra treme, muda-se o cenário; em lugar da mulher, o vidente depara-se com o panorama de uma encantadora cidade. Uriel então explica-lhe a visão: a mulher é Sião; os 30 anos correspondem aos 300 anos em que ali não se ofereceu sacrifício ao Deus Verdadeiro; o nascimento do filho, a construção do templo de Salomão; a sua morte, a queda de Jerusalém; a nova cidade, Jerusalém reedificada, cuja visão deveria confortar Esdras. 
  • 5. Quinta visão (11.1—12.51). Esta é a mais terrível e complicada. Esdras vê que do mar sobe uma estranha águia com três cabeças e seis pares de asas, além de oito sobre asas. As asas se dominam mutuamente por vários períodos, até se acabarem, restando apenas três pares de pequenas asas que, pouco a pouco, se vão consumindo. A cabeça do centro domina a terra toda; no fim, desaparece. As duas restantes se devoram simultaneamente. Levanta-se um leão que, com voz de homem, brada que a águia era o quarto dos animais a quem Deus confiara a direção do mundo. Tal águia era representativa do último reino de Daniel; as asas eram reinos também. O leão não era senão o Messias do Altíssimo, separado para determinado objetivo. Depois do desenrolar dessas cenas, Uriel ordena ao vidente que registrasse essa revelação, mas não a divulgasse. 
  • 6. Sexta visão (13.1-58). O vidente contempla um homem saindo do mar; a esse se vêm juntar multidões de outros homens. O anjo diz a Esdras: o homem da visão é aquele por meio de quem Deus resgatará toda a criação. Os seus inimigos serão extintos pela Lei, que é um verdadeiro fogo. 
  • 7. Sétima visão (14.1-50). O anjo ordena a Esdras que leve a notícia a seu povo, a fim de que este se preparasse convenientemente, pois o Poderoso vai levá-lo da terra. 

1—2Macabeus

Considera-se 1Macabeus, de autor desconhecido, o mais importante dos apócrifos. Não se sabe quando foi escrito. É quase uma fonte histórica de informação sobre a família Macabeia. Foi escrito em hebraico, mas só temos cópias em grego. O autor revela-se perito historiador, homem religioso, grande patriota e criterioso. Tem especial predileção por Judas Macabeu. O livro narra a história de como a Síria chegou a governar a Palestina durante 40 anos (175-135 a.C.), só sendo liberta quando João Hircano começou a reinar ali. Na purificação do templo discutiu-se a questão de onde ficariam as pedras do velho altar, atualmente profanadas e poluídas pelos sírios. Resolveram guardá-las até que viesse um profeta que determinasse sobre elas. O texto esclarece que a eleição de Simão para o cargo de sumo sacerdote seria interinamente, até que surgisse um profeta.

O livro de 2Macabeus é bem diferente do primeiro. Foi escrito muito mais tarde. Conforme lemos em 2.23, esse livro é resumo de uma história mais desenvolvida, em cinco volumes. Seu autor foi Jason de Cirene e abrange um período de 15 anos do período compreendido no primeiro livro, embora sejam independentes. O prefácio de 2Macabeus tanto tem de longo como de desconexo. O autor discute o saque ao templo por Seleuco IV e termina na vitória de Judas sobre Nicanor (160 a.C.). O livro está eivado de lendas. Encontramos nele a que diz respeito à Arca, que seria oculta numa caverna, até que os judeus voltassem do cativeiro. Encontramos nele a doutrina da intercessão pelos santos (7.28; 15.14). Aparece também a crença na oração pelos mortos, doutrina estranha ao Antigo Testamento.

Tobias

É um livro de história. Refere-se a Tobiel, pai de Tobias, da tribo de Neftalí. Segundo algumas tradições, a família de Tobiel foi levada cativa para Nínive, onde permaneceu. Tobiel entregara a um amigo em Rages, na Média, certa quantia em dinheiro. Era observador fiel e rígido de Moisés, e crente muito piedoso. No exílio, entregava-se a obras de beneficência, enterrando os cadáveres de seus patrícios, abandonados insepultos pela impiedade dos filhos de Assur. Conta-se que, certa vez, voltando de sepultar um judeu, não desejando continuar em sua casa, dormiu ao ar livre e, ao acordar, estava completamente cego. No decorrer dos anos, já velho, enviou seu filho Tobias a Rages buscar os dez talentos de prata que ali deixara. Ao longo do caminho, Tobias depara-se com um homem que também ia a Rages à procura desses dez talentos de prata. Era o anjo Rafael disfarçado. Banhando-se ambos no rio, Tobias apanha um peixe, cujo fígado, segundo ordem do anjo, deveria ser guardado e estar sempre com ele. Em Rages, Tobias recebe os dez talentos de Gabel, por cuja filha se apaixona e a quem propôs casamento. Esta, porém, tivera sete maridos, todos morrendo na noite do casamento pela maldade do demônio Asmodeu. Rafael ordenou a Tobias que, ao entrar no camarim nupcial, queimasse o fígado do peixe, cuja fumaça espaventaria Asmodeu. Feito isto, logo a felicidade lhe sorriu. De regresso, Tobias curou a cegueira de seu pai, que ainda viveu 100 anos. O próprio Tobias viveu 127 anos. 

Judite

Esse livro é uma exortação. Nota-se nele grande influência farisaica. A cena desenrola-se da seguinte maneira: o rei Nabucodonosor, da Assíria [?], querendo atacar Arfaxão ou Arfaxad, rei da Média [?], pediu reforços à suas colônias, que negaram o auxílio. Holofernes, general de Nabucodonosor, é o vencedor. O espírito de vingança o levou a perseguir pequenas colônias, contando-se entre elas Israel. Holofernes cercou a cidade de Betúlia em Esdraelon; quando ia precipitar-se sobre aquele povo, Judite, uma linda viúva judia, foi ter com Holofernes. Este ficou deslumbrado diante da beleza de Judite; mandou preparar um banquete, onde se embriagou grandemente. Após as festas, retirando-se o povo, Judite ficou só, na tenda, com Holofernes. Valendo-se da embriaguez do general, Judite o degola com sua própria espada, mete-lhe a cabeça no saco de sua escrava, entra em Betúlia aos aplausos, e às aclamações do seu povo que, frenético, a recebeu.

Eclesiástico

Afirma-se que é o principal ou a fina flor dos apócrifos. No entanto, não ganhou lugar entre os livros canônicos do Antigo Testamento. Originalmente foi escrito em hebraico, num estilo dos mais apurados. Parte do original foi descoberta em 1896 e impressa no ano seguinte na imprensa da Universidade de Oxford pelo editor A. E. Cowley. Está incluído na Septuaginta com o nome de Sabedoria de Jesus, filho de Sirac. Cipriano, do século III d.C., o designou Eclesiasticus. Os latinos o usaram. Agostinho, no seu “Speculum”, coleção de versos bíblicos, destinou cerca de 15% do espaço de seu livro a passagens desse livro, que é composto de 51 capítulos. Foi escrito possivelmente no tempo do rei Fiscon, irmão de Ptolomeu VII, cerca de 180 a.C. Seu estilo assemelha-se ao de Provérbios, sendo, em tudo, mais homogêneo. Nota-se através de suas linhas que o autor é um grande observador, homem de espírito  levado e profundamente religioso. “Como nos Provérbios”, diz José Carlos Rodrigues, “o autor usa a forma curta de apotegma para incutir os resultados a que chega a sua análise”. O filho de Sirac afirma que a verdadeira sabedoria está, em forma absoluta, em Deus. Obedecer ao Senhor é revelar profunda sabedoria. Eclesiástico estuda as diversas relações entre os homens; dá regras e conselho a todos, como viver na pobreza ou na riqueza, enfermo ou com saúde, na mocidade ou na velhice, na presença de amigos ou de inimigos. É filosofia prática. O autor exalta e louva a Lei de Moisés; entretanto, não se exime da influência do panteísmo grego, onde deixa transparecer traços fundos dessa corrente filosófica em sua obra. Afirma-se que Eclesiástico exerceu alguma influência no cristianismo, principalmente na carta de Tiago. 

Sabedoria de Salomão

Não se conhece o autor desse livro. Originalmente, foi escrito em grego, num estilo esmerado, supondo ter sido escrito por um sábio de Alexandria, entre 150 e 130 a.C. Deduz-se que seu autor era um fervoroso adepto da religião judaica. Seu autor conclui que a única coisa certa era o seu Deus e com ele estava a verdadeira Sabedoria, que, lado a lado com Deus, presidia a tudo. Percebe-se que o livro foi escrito para combater acentuada tendência generalizada entre seus compatriotas de se deixarem arrastar pelas caudalosas avalanches de outros credos religiosos. O autor é de uma penetração rara quando externa sobre a imortalidade da alma humana, afirmando que o homem foi criado à imagem de Deus, “à imagem de sua eternidade”. Também expõe de maneira singular o multissecular problema do sofrimento humano. Nota-se através de suas páginas que o livro é, em grande parte, um libelo terrível contra o epicurismo, cuja semente germinada produz frutos de incredulidade. O livro é precioso, ainda que haja nas suas partes coisas de pouco sabor bíblico, o que impediu sua entrada no cânon.

Acréscimos a Ester

Quem lê o livro canônico de Ester notará que o nome de Deus não aparece uma só vez. Sentindo essa falta, copistas habilidosos dentre os judeus helenistas resolveram infundir-lhe pequenos trechos sobre Deus; fizeram-no, entretanto, sem qualquer êxito, pois tais acréscimos feitos em 114 a.C. não conseguiram incorporação no texto canônico.

Acréscimos a Daniel

O texto grego de Daniel difere do original por incorporar três acréscimos engendrados, não pelos tradutores da Septuaginta, mas por copistas posteriores. Os acréscimos são: “Oração de Azarias e a ação de graças dos três rapazes na fornalha”, “História de Suzana” e “Bel e o Dragão”. Propositadamente deixamos de nos referir a cada uma dessas lendas, que não lograram nenhum êxito no cânon devido ao fato de judeus acharem que o livro é um amontoado de histórias imaginárias, inverídicas, que não afinam com o diapasão bíblico.

Baruque

Esse apócrifo, escrito em Babilônia no século V após a destruição de Jerusalém, é pálida imitação do grande profeta Jeremias. A tentativa do autor de Baruque foi frustrada de modo absoluto. O padre José Carlos Rodrigues afirma que o livro foi escrito em 75 ou 80 da nossa era. Nesse caso, o autor referia-se não a Babilônia, mas a Roma; não ao monarca Nabucodonosor, mas a Tito, filho de Vespasiano. O livro pode ser dividido em três partes: “Liturgia”, “Lei” e “Profecia”.

Enoque

Trata-se de um livro apocalíptico. Dentro desse gênero, há críticos que o reputam como o principal, o mais importante. O nome refere-se ao Enoque de Gênesis 5.24, que viveu 365 anos. Surgiram muitas lendas e histórias em torno de tão ilustre personagem; algumas dentre os judeus, outras fora da Palestina. Devido ao fato de Enoque não ter provado a morte, atribuíam-lhe poderes de operar maravilhas e um conhecimento especial dos mistérios da natureza. As revelações que encontramos nesse livro foram dadas por Enoque. Esse livro é chamado 1Enoque para distinguir de Segredos de Enoque, que mais tarde foi denominado de 2Enoque. 1Enoque perdeu-se. Há pouco mais de um século acharam fragmentos dele na Abissínia. De 2Enoque só se conhece a versão eslavônica. Possivelmente foi escrito por diversas pessoas. O livro divide-se assim: “O apocalipse das semanas”, “Fragmentos do livro de Noé”, “As visões”, “Livros dos lumiares celestes”, “Similitudes” e “Parte final”. A data mais aproximada para a produção de Enoque é um período que vai de 130 a 100 a.C.

  • A primeira parte do 1Enoque (caps. 1—36) é uma visão em que ele implora o perdão de Deus pelos anjos decaídos, que introduziram o pecado no mundo. Deus não lho concede. Resolve girar a terra e o inferno acompanhado de anjo de luz. Na terra, descreve sete arcanjos; no inferno, ele vê os anjos decaídos, cuja prisão se estende de eternidade a eternidade. Saindo do inferno, vê sete montanhas, na mais elevada das quais está Deus no seu trono e junto à arvore da vida.
  • Na segunda parte, “Parábolas” ou “Similitudes” (caps. 37—71), é uma profecia contra os poderosos injustos; serão punidos pela inexorável justiça dos céus. Também nos reporta à habilitação dos justos, cujo serviço principal é adotar continuamente o Deus eterno. No topo da glória, ele vê o “Eleito”, o “Filho do Homem”, cuja missão é julgar. O autor alude à conversão dos gentios e à ressurreição.
  • Na terceira parte (caps. 72—82), o autor se prende à astronomia, que, pelas características, bem poderíamos chamá-la de “astrologia”. Na quarta parte (caps. 83—105) notam-se enormes interpretações e grande confusão. Fala, entretanto, da conversão dos gentios, da ressurreição dos justos e da aparição do Messias.

Apocalipse de Baruque

Supõe-se que o livro hoje conhecido como Apocalipse de Baruque foi escrito logo após a destruição de Jerusalém pelos babilônicos. É uma série de visões. Em vez de ver os babilônios destruindo a Cidade Santa, Baruque vê quatro anjos. Os gentios serão destruídos e então virá o juízo sobre todos os ímpios. Numa das visões, Baruque vê quatro reinos; quando o último estiver prestes a cair, aparecerá o Ungido, cujo reinado será “para sempre”. Prosseguem as revelações sobre a natureza da nova ressurreição, a felicidade dos justos e o castigo dos ímpios. Baruque tem outra visão: a nuvem negra despejando água da mesma cor, mas depois se torna clara. A nuvem é este mundo; as águas, Israel, cuja história oscila para limpidez das águas claras, apresentando os áureos tempos do reinado do Ungido do Senhor, em cujo domínio não haverá tribulação. O livro termina com o capítulo 87. Chegando-se a essa altura, tem-se a impressão de que a história de tais revelações deveria prosseguir. Daí a conjectura de alguns críticos de que a última parte desse livro foi perdida. Os 87 capítulos encontram-se em siríaco.

Testamento dos doze patriarcas

Esse livro foi encontrado em 1300 d.C., num manuscrito grego do século X. Nesse livro, o autor apresenta o testamento dos patriarcas, como se cada um o tivesse escrito, em que se narram seus pecados e suas virtudes. Cada patriarca prevê o futuro de sua tribo. Os críticos se dividem quanto ao tempo em que esse livro foi escrito. Uns afirmam que foi produzido antes de Cristo; outros defendem que é produto da pena de um cristão. Por certas referências, é possível que tenha sido escrito por um cristão.

O livro dos jubileus

O “anjo da presença” concede a Moisés uma revelação divina, cujo conteúdo é a história da criação até a era mosaica, contada de 49 em 49 anos, tempo de um jubileu. A narrativa segue em linhas gerais a de Gênesis, percebendo-se a influência “midrashica”. A narrativa é feita da maneira mais simples possível. Venera-se aí a Lei, principalmente a parte cerimonial. O livro foi escrito entre 160 e 135 a.C.

Conclusão

Poderíamos ter feito resumo de cada apócrifo. Entretanto, só colocamos aqui o resumo daqueles apócrifos que interessam ao escopo deste livro. O leitor poderá ler numa edição católica romana da Bíblia os sete livros apócrifos e os dois acréscimos. Se desejar ler os demais apócrifos, examine o grande comentário de Lange, em inglês, especialmente o volume sobre os apócrifos. É o mais completo que conheço sobre o assunto. A maior parte desses livros apareceu na época da helenização do mundo, isto é, no Período Interbíblico. A leitura dessa literatura, do ponto de vista histórico, é de inestimável valor para a compreensão do estudo desse período.

Fonte:

TOGNINI, Enéas. O período Interbíblico. São Paulo: Hagnos, 2009

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