Joel 2.13 “E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal.”
“E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes,”
Aqui, Deus conclama mais uma vez o povo ao arrependimento — mas a um arrependimento realmente sincero, verdadeiro, genuíno, autêntico.
Deus diz ao povo que estava cansado do ritual de vestir pano de saco em jejum depois de rasgar as vestes, porque esses atos já não eram acompanhados de um real propósito de mudar, não eram realizados como exteriorização de um genuíno arrependimento.
O ato de rasgar as vestes era sinal de profundo infortúnio (Genesis 37.29,34; 1 Reis 21.27; Ester 4.1). Mas, não bastava rasgarem suas vestes se antes não estavam rasgando os seus corações diante dEle. Por ser o lugar das decisões morais e espirituais, é o coração que devia ser atingido.
Ou seja, nessa passagem, Deus está afirmando que penitência externa não muda nada. E preciso um coração realmente rasgado diante do Senhor para que Ele se volte para o seu povo com perdão, restauração e bênçãos (v.14).
“..., e convertei-vos ao Senhor vosso Deus;”
A natureza exata da mudança é enfatizada pelo profeta, que repete e amplia a ordem de Javé: “convertei-vos a Javé vosso Deus”. O povo de Deus é como o filho pródigo que precisa voltar ao lar do Pai celestial. Não basta cair em si, é preciso voltar para casa. Não basta ter convicção de pecado, é preciso pôr o pé na estrada da volta para Deus. A tristeza pelo pecado é apenas uma parte do arrependimento, ele deve ser acompanhado por uma volta sincera e urgente para Deus.
O caminho da volta é aberto quando voltamos nossas costas ao pecado e a face para o Senhor. Não há restauração espiritual sem volta para Deus. Não é apenas um retorno aos rituais do templo, mas um retorno para uma relação íntima com Deus. Não é apenas um retorno à igreja, à doutrina, à ortodoxia, a uma vida moral pura, mas uma volta para uma relação pessoal com Deus.
O povo de Judá tinha uma relação mística com o templo. Eles sacralizaram de tal forma o templo que fizeram dele um ídolo: “Não vos fieis em palavras falsas, dizendo: Templo do Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor é este” (Jereremias 7.4). A confiança deles estava no templo do Senhor e não no Senhor do templo. Eles haviam substituído o relacionamento pessoal com Deus pelos rituais religiosos.
“... porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal.”
É o caráter misericordioso de Deus e não nosso quebrantamento que nos garante a restauração espiritual: “Misericordioso e piedoso é o Senhor; longânimo e grande em benignidade” (Salmos 103.8).
Warren Wiersbe diz que a única coisa que serve de estímulo para que nos arrependamos e voltemos para o Senhor é o caráter de Deus. Matthew Henry destaca o fato de que devemos nos tornar para o Senhor, não somente porque ele tem sido justo em punir-nos pelos nossos pecados, mas, sobretudo, porque ele é gracioso e misericordioso em nos receber na base do nosso arrependimento. Até mesmo na ira Deus se lembra da sua misericórdia (Habacuque 3.2).
Ele também é “tardio em irar”. A misericórdia de Deus triunfa sobre sua ira sempre que seu povo se volta para ele com o coração quebrantado. Deus não tem prazer na morte do ímpio (Ezequiel 33.11). Deus não quer que ninguém pereça. Ele é rico em perdoar e tem prazer na misericórdia. A porta da graça estará aberta a todos quantos o buscam em tempo oportuno de o encontrarem.
Quando Joel fala que Deus “se arrepende do mal” está usando uma figura de linguagem. Isso é uma antropopatia. E atribuir a Deus um sentimento humano. A relação de Deus com o homem é bilateral. Na verdade, o propósito de Deus permanece imutável, pois Deus é imutável. Não é Deus quem muda, mas o homem. Matthew Henry esclarece esse ponto: “Quando a Bíblia diz que Deus se arrepende do mal não quer dizer que Deus muda a sua mente; ao contrário, quando a mente do pecador é mudada, a maneira de Deus tratar com ele é mudada; então, a sentença é revertida e a maldição da lei suspensa”.
Ou seja, isso ocorre em resposta ao arrependimento humano. Observe a missão do profeta Jonas: “E começou Jonas a entrar pela cidade caminho de um dia, e pregava, e dizia: Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida. E os homens de Nínive creram em Deus, e proclamaram um jejum, e vestiram-se de panos de saco, desde o maior até ao menor... E Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria e não o fez” (Jonas 3.4,5 10).
DEIVY FERREIRA
PANIAGO JUNIOR
5/7/2024
FONTES:
QUEIROZ, Silas. O Deus Que Governa o Mundo e Cuida da Família – Os Ensinamentos Divinos nos livros de Rute e Ester para a Nossa Geração. Rio de Janeiro: CPAD, 2024.
Lopes, Hernandes Dias. Joel: o profeta do pentecostes. São Paulo: Hagnos, 2009.
Hubbard, David Allan. Joel e Amós: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1996.
HENRY, Matthew. Comentário Bíblico – Profetas. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.
WIERSBE, Warren W. Wiersbe – Antigo Testamento – Volume I. São Paulo: Geográfica, 2009.
Nenhum comentário:
Postar um comentário