2 Pedro 2.4 “Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo;”
“Porque, se Deus não perdoou aos anjos que pecaram,”
O apóstolo Pedro está argumentando que o mesmo Deus que executou o julgamento no passado era plenamente capaz de fazê-lo novamente. “Ele não vai poupar os falsos mestres. Eles também serão julgados”. Pedro não disse isso, mas está suficientemente implícito.
Quando esses anjos pecaram? Por não ter contexto imediato essa passagem possui mais de uma explicação.
Alguns citam que pecaram no incidente bíblico de Gênesis 6:2 “vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, tomaram para si mulheres”. Nessa interpretação os filhos de Deus são anjos: “E em certo dia, os filhos de Deus vieram para se apresentarem diante do SENHOR, e Satanás também veio entre eles” (Jó 1.6). Os anjos haveriam se relacionados com mulheres e gerados os gigantes da terra. Posteriormente viria seu castigo.
Quem acredita nisso tem sua fonte no não canônico de Livro de Enoque. Todavia, nem a ortodoxia nem Flavio Josefo concordam que os Filhos de Deus esses são anjos. Agostinho afirmou que ninguém pode tomar este relato literalmente e ninguém pode falar a respeito dos anjos dessa maneira. Jesus afirmou que anjos não se casam, e que um dia seremos como eles: ” Porque na ressurreição nem casam nem são dados em casamento; mas serão como os anjos de Deus no céu” (Mateus 22.30).
A outra explicação é baseada na rebelião ocorrida no céu e a queda no mundo angelical (Isaías 14.12-15; Ezequiel 28.11-19). O anjo de luz transformou-se em Satanás, que arrastou consigo um terço dos anjos (Apocalipse 12.4). Destes alguns se tornaram demônios e servem seu novo comando, outros, mais ferozes, foram precipitados no inferno (Tártaro), um lugar de trevas, onde aguardam o juízo de Deus.
Judas também fez alusão ao julgamento que sobreveio a certos anjos, mas ele acrescentou que eles caíram porque não estavam satisfeitos com o lugar que Deus lhes conferiu: "E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão, e em prisões eternas até o juízo daquele dia" (Judas v.6).
Judas e outras fontes paralelas, dizem que algumas ordens angelicais caíram. Eles abandonaram o seu estado original. O lugar de honra, de bem-estar e do domínio que eles possuíam nos lugares celestiais, nas esferas espirituais da existência. Antes, tais anjos contavam com o favor divino, pois eram espiritualmente puros e tinham um poder inconcebível. Mas caíram.
Isso sucedeu propositadamente. Fizeram uma louca escolha e má decisão. A sua má escolha pode-se ver em inferência nas palavras de Elifaz, o Tamanita, o amigo de Jó,"...e nos seus anjos encontra loucura" (Jó 4.18b).
“... mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão,”
Esses não estão presentemente a serviço de Satanás, e sim, aprisionados por expressa ordem de Deus, em cadeias eternas, na escuridão exterior.
A palavra traduzida por inferno é “Tártaro” e é mencionada apenas uma vez na Bíblia. O Tártaro não é de modo nenhum um conceito judeu, mas sim grego. Na mitologia grega o Tártaro é o inferno mais baixo; está tão abaixo em relação ao Hades como o está a Terra em relação ao Céu.
Ele é classificado por alguns eruditos como sendo um lugar separado do Hades, ou, como é mais provável, o próprio Abismo. Pois, alguns manuscritos dizem que esses anjos foram presos “com correntes de trevas”, e outros “em abismos de trevas”. ARA segue a segunda opção: os entregou a abismos de trevas. Havia um abismo intransponível entre as duas partes do Hades, de forma que Lázaro não podia ir para o outro lado onde estava Deus. Lucas 16.26-31.
No milênio Satanás será amarrado e lançado no abismo: “E vi descer do céu um anjo, que tinha a chave do abismo, e uma grande cadeia na sua mão. Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e amarrou-o por mil anos. E lançou-o no abismo, e ali o encerrou, e pôs selo sobre ele, para que não mais engane as nações, até que os mil anos se acabem” (Apocalipse 20.1-3). Os demônios temem o Abismo, pois eles rogaram a Jesus que não os lançasse ali: “E rogavam-lhe que os não mandasse para o abismo” (Lucas 8.31).
“... ficando reservados para o juízo;”
Esses anjos não ficarão no Tártaro para sempre. Eles estão esperando pelo julgamento do grande dia. ”... reservou na escuridão, e em prisões eternas até o juízo daquele dia" (Judas v.6). Eles estão reservados. Durante a Grande Tribulação, durante o toque da quinta trombeta, eles ficarão por cinco meses sob o domínio total de Satanás, depois, certamente, voltarão a ser aprisionados e evidentemente comparecerão a Juízo Apocalipse 9.1-3.
Isso não significa que serão libertados no dia do julgamento. Certamente não serão! As evidências estão sendo coletadas, de modo que Deus possa proferir o veredito naquele dia temível. Serão julgados certamente na ocasião do Grande Trono Branco. Os crentes ajudarão a julgar os anjos. “Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos?” (1 Coríntios 6.3). Após eles serão atormentados de dia e de noite pelos séculos dos séculos (Apocalipse 20.10).
Apesar desta passagem ser difícil, o seu significado é claro. Até os próprios anjos foram castigados quando pecaram por sua concupiscência. Quanto mais serão castigados os homens? Os anjos não puderam rebelar-se contra Deus e escapar às conseqüências dessa rebelião. Como poderão escapar os homens? Os seres humanos não precisam culpar a outros, nem mesmo aos anjos; nada nem ninguém, exceto sua rebelde concupiscência, é responsável pelo pecado que eles cometem.
DEIVY FERREIRA PANIAGO JUNIOR
28/5/2024
FONTES:
Lopes, Hernandes Dias. 2 Pedro e Judas : quando os falsos profetas atacam a Igreja. — São Paulo: Hagnos, 2013.
http://www.biblecourses.com/Portuguese/po_lessons/PO_201412_04.pdf
SILVA, Severino Pedro. A doutrina bíblica dos anjos- Estudo sobre a natureza e ofício dos seres celestiais. Rio de Janeiro: CPAD, 1987.
Livro de Enoque, o etíope. São Paulo: Fonte Editorial, 2019.
SILVA, Severino Pedro. Apocalipse Versículo por Versículo. Rio de Janeiro: CPAD, 1985.
Kistemaker, Simon J. Epístolas de Pedro e Judas, trans. Susana Klassen, 1a edição., Comentário do Novo Testamento. São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2006.
Barclay, William. The Letters of James and Peter (Título Original em Inglês). Tradução: Carlos Biagini.
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