João 13.15 "Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também."
"Porque eu vos dei o exemplo, "
Jesus responde à sua própria pergunta e chama a atenção dos discípulos para as implicações dos títulos que eles lhe davam: "Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou" (João 13.13). Já que o reconheciam como Mestre e Senhor deles, então que também aceitassem sua orientação e seguissem seu exemplo; sua instrução é transmitida tanto por preceito quanto por prática.
Em vez de buscar posições de destaque para si mesmos, eles deveriam seguir o exemplo de seu Senhor, realizando humildemente até mesmo os serviços mais humildes. Jesus afirmou, assim, que aquele ato não foi casual. Ele deu o exemplo supremo a ser seguido por seus discípulos. Sobre seu a nós exemplo Pedro escreveu: "Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas" (1 Pedro 2.21)
Os exemplos, modelos ou paradigmas fazem parte de nossa vida assim com o ar que respiramos. Na história bíblica observamos que quando havia uma crise política ou religiosa, essa crise se dava em razão da falta de modelos ou referenciais. Aconteceu assim no período dos Juízes (Juízes 17) e também em outros momentos da história da nação hebraica. Quando Arão construiu o bezerro de ouro, o fez porque o povo se achou sem um modelo para seguir. O longo período em que Moisés, o grande legislador hebreu, ficou ausente, favoreceu esse fato (Êxodo 32.1). No vácuo criado pela ausência de Moisés, o povo queria seguir os deuses pagãos como modelo.
Napoleão Bonaparte, sem dúvida, foi um dos maiores líderes que este mundo já conheceu. Certa vez, seu exército estava se preparando para uma das maiores baralhas. As forças adversárias tinham um contingente três vezes superior ao seu, além de um equipamento mais moderno. Napoleão avisou a seus generais que ele estava indo para a frente de batalha, e estes procuraram convencê-lo a mudar de ideia.— Comandante, o senhor é o império. Se morrer, o império deixará de existir. A batalha será muito difícil. Deixe que cuidaremos de tudo. Por favor, fique. Confiem em nós. Tudo em vão; não houve nada que o fizesse mudar de ideia. No meio da noite, o general Junot, um de seus brilhantes auxiliares e também amigo, procurou-o, e de novo, tentou mostrar o perigo de ir para a frente de batalha. Napoleão olhou-o com firmeza e disse: — Não tem jeito, eu vou. — Mas por que, comandante? — É mais fácil puxar do que empurrar!
O apóstolo Paulo entendendo essa carência que possuímos de modelos se colocava nessa brecha quando escrevia: "Sede meus imitadores, como também eu de Cristo" (1 Coríntios 11.1). Quando Paulo pedia para que o imitassem, não estava sendo presunçoso com falta de modéstia, ou com falsa humildade, mas estava cheio de uma coragem espiritual e moral de colocar-se, em Cristo, como referência de vida e fé para aquela igreja (1Coríntios 4.16,17; 11.1; Efésios 5.1).
"... para que, como eu vos fiz, façais vós também."
Jesus tira as desculpas de qualquer discípulo que imagina ser importante demais para fazer qualquer humilde serviço. Se o Senhor e Mestre deixou de lado sua posição para servir humildemente, qual servo que poderá recusar-se a tomar a mesma atitude?
Ao lavar os pés deles, Jesus não rebaixou sua dignidade, por mais embaraçoso que isto pudesse ter parecido a eles. William Temple disse: “Quando alguém faz questão de destacar sua dignidade, geralmente consegue acabar com ela”; o Senhor foi a única pessoa na terra a não fazer questão da sua dignidade, mesmo que seus seguidores tantas vezes ostentassem a deles. Seu ato serviçal conscientemente não-egoísta reforçou de modo involuntário sua dignidade - foi mais uma manifestação da glória divina que residia no Verbo que se fez carne.
Lavar os pés aos irmãos significa servi-los em humildade e amor (Atos 20.35; Romanos 12.10; 15.1-3; 1 Coríntios 9.22; Gálatas 5.13; 6.1,2). Jesus quer dizer que devemos estar dispostos, como nosso Mestre, a deixar de lado os nossos direitos e privilégios e nossa preocupação com as honras que queremos receber dos outros, e, vestindo a humildade e o amor, trabalhar para tirar nosso próximo do lamaçal de infortúnios em que o pecado o mergulhou.
Assim como ele disse a Pedro: “Se eu te não lavar, não tens parte comigo”, também queria que os discípulos entendessem que, recusando-se a lavar os pés uns aos outros, recusando-se a servir uns aos outros em amor, não leriam parte com ele.
Pedro, nas suas Epístolas, faz frequentes alusões a algumas das suas experiências narradas nos Evangelhos. Por exemplo, com pare 1 Pedro 5.8 com Lucas 22.31,32 e 1 Pedro 5.2 com João 21.15-17. É muito provável que Pedro tivesse em mente o incidente da lavagem dos pés quando escreveu aos cristãos: “Semelhantemente vós, mancebos, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (1 Pedro 5.5). No grego original, a palavra traduzida por “cingir” provém de um termo que descreve o avental usado pelos escravos em serviço, de modo que se pode interpretar assim a expressão; “Vistam o avental da humildade para servir uns aos outros” . Foi exatamente isto que o Senhor Jesus fez quando lavou os pés aos discípulos e como ele devemos também fazer.
DEIVY FERREIRA PANIAGO JUNIOR
22/4/2024
FONTES:
GOMES, Osiel. A Carreira que nos está proposta – O caminho da salvação, santidade e perseverança para chegar ao céu. Rio de Janeiro, CPAD, 2024.
http://www.biblecourses.com/Portuguese/po_lessons/PO_202203_01.pdf
PEARLMAN, Myer. João o Evangelho do Filho de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
RANGEL. Alexandre. As Mais Belas Parábolas de todos os Tempos, vol. 1. Belo Horizonte: Leitura, 2002.
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