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domingo, 17 de março de 2024

Jó 1:1

Jó 1:1 "Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal. "


"Havia um homem na terra de Uz, "

O autor sagrado faz questão de ressaltar que o protagonista deste drama era, apesar de toda a áurea que hoje o cerca, era um homem comum. Por isto usa também um substantivo bastante comum para denotar quão humano era Jó: "ysh" Esta palavra hebraica não significa apenas varão; pode ser usada ainda com estes sentidos: vencedor, grande homem, marido, ou, simplesmente, pessoa.

Nesse único substantivo, é-nos possível fazer um admirável sumário da biografia de Jó. Em virtude de sua fé em Deus, foi-se destacando como um vencedor até ser reconhecido como o maior dos varões de sua geração. Isto significa que todo aquele que se entrega a Deus torna-se um herói por mais insignificante que seja aos olhos do mundo.

Uz está localizada a oeste do deserto da Arábia, ocupava uma área de grande importância estratégia. No auge do poder, seus domínios estenderam-se até chegar às fronteiras de Babilônia. Séculos mais tarde, a terra de Uz seria ocupada pelos filhos de Esaú. Também conhecidos como edomitas. 

O profeta Jeremias  corrobora com essa localização: "Regozija-te e alegra-te, ó filha de Edom, que habitas na terra de Uz" (Lamentações 4:21). Segundo Flávio Josefo, os uzitas teriam se dirigido para as bandas da Síria, onde fundaram a cidade de Damasco. 


"...cujo nome era Jó;"

O nome Jó significa ´que se volta para Deus”. Ele não era judeu, mas um gentio, provavelmente um sírio ou um árabe. E o significado de seu nome está ligado a seu caráter e à sua carreira. Jó é descrito em seu livro como um homem muito rico, o maior do oriente. Era casado e desse casamento teve inicialmente dez filhos. Sete homens e três mulheres v.2


"...e era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal. "

O caráter define o que uma pessoa é de verdade. Ela é vista a partir dos valores que governam a sua vida interior. O “mau-caráter” define uma pessoa que não merece confiança, que é desonesta e que, portanto, não possui valores nobres. Jó não era um homem sem pecado, mas tinha um caráter irretocável. O primeiro versículo do livro de Jó nos lista três adjetivos referentes ao caráter de Jó:

Um Homem Íntegro. A palavra “íntegro”, que traduz o hebraico tām, possui o sentido de inocente, sem culpa. O vocábulo é encontrado apenas treze vezes no Antigo Testamento. Jacó também é assim descrito (Genesis 25.27). No grego, segundo a Septuaginta, a palavra "alethinós" remete ao que é verdadeiro. Assim, podemos afirmar que Jó era sincero nas intenções, afeições e diligente nos esforços para cumprir seus deveres para com Deus e os homens.

Um Homem Reto. A palavra "reto", que traduz o hebraico yāšār, tem um sentido de alguém justo, direito. Na Septuaginta, de acordo com o grego amemptos, possui o sentido de irrepreensível. Retidão na conduta é não se desviar nem para a direita e nem para a esquerda, apesar das consequências. Ainda que sofra danos, mantém-se reto: "...aquele que jura com dano seu, e contudo não muda" (Salmos 15:4).

Temente a Deus. A expressão hebraica que descreve o homem temente a Deus: yará, evoca um medo santo e respeitoso pelo Todo-Poderoso. M edo esse, aliás, que não tem a natureza do terror. Através de seu temor a Deus, o patriarca Jó introduzira se em todos os princípios da sabedoria (Provérbios 1.7). Daí a razão de ser ele contato entre os homens mais sábios e piedosos de todos os tempos. M ui acertadamente escreveu o teólogo americano A. W. Tozer: “Ninguém pode conhecer a verdadeira graça de Deus, se antes não conhecer o temor de Deus”. Alguns homens da Bíblia são também destacados por seu temor a Deus. Haja vista Hananias, ajudante de Neemias na reconstrução dos muros de Jerusalém (Neemias 7.2). O idoso Simeão, que tomou o menino Jesus nos braços, também é realçado como temente ao Todo-Poderoso (Lucas 2.25). Entre outros.

Desviava-se do mal. O vocábulo hebreu utilizado para descrever o ato de se desviar do mal é "sar" retirar-se, afastar-se de tudo quanto nos possa induzir à iniquidade, cuja força gravitacional é a tentação. Se fugirmos desta, não cairemos naquela. O processo que leva à queda é assim descrito por Tiago: “Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência” (Tiago 1.14 ). Por conseguinte, é imprescindível que nos apartemos de tudo quanto é concupiscente. Esquivemo-nos, pois, do mal tão logo este se apresente. Em Gênesis, o pecado é apresentado como aquela serpente que se põe a espreitar os incautos: “Se bem fizeres, não haverá aceitação para ti? E, se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e para ti será o seu desejo, e sobre ele dominarás” (Genesis 4.7).

Crisóstomo, o grande orador da igreja, é mui categórico e enérgico: “Prego e penso que é mais amargo pecar contra Cristo do que sofrer os tormentos do inferno”. Portanto, se não nos apartarmos do pecado, seremos destruídos. Diante do pecado não há segurança: “O sábio teme e desvia-se do mal, mas o tolo encoleriza-se e dá-se por seguro” (Proverbios 14.16).


DEIVY FERREIRA PANIAGO JUNIOR
17/03/2024

FONTES:

ANDRADE, Claudionor. Jó O problema do sofrimento do justo e seu propósito – Rio de Janeiro: CPAD, 2003.

GONÇALVES, José. A Fragilidade Humana e a Soberania Divina: O Sofrimento e a Restauração de Jó. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.


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