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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

LIÇÃO 10 - O Avivamento Na Vida Pessoal – 1 Trimestre de 2023

TEXTO ÁUREO “Porque a tua benignidade é melhor do que a vida; os meus lábios te louvarão. Assim, eu te bendirei enquanto viver; em teu nome levantarei as minhas mãos. ” (Salmos 63.3,4)

“Porque a tua benignidade é melhor do que a vida; ” ou “melhor do que as vidas”, como está no original hebraico. A vida é querida, mas o amor de Deus é mais querido. Habitar com Deus é melhor do que a vida no que tem de melhor. Viver em paz, em um palácio, com saúde, com honra, com riqueza, com prazer, sim, mil vidas como esta não são iguais à vida eterna que há no sorriso do Senhor. Nele verdadeiramente vivemos, nos movemos e existimos (Atos 17.28). A retirada da luz do semblante divino é como a sombra da morte para nós. Por conseguinte, não podemos deixar de desejar a aparição graciosa do Senhor. Para muitos, a vida é um bem duvidoso, mas a benignidade é um benefício incontestável. A vida é passageira, mas a misericórdia é perpétua. A vida é compartilhada pelos animais irracionais, mas a benignidade do Senhor é a porção peculiar daqueles que nele creem.

“...os meus lábios te louvarão. “ Abertamente, de forma que a tua glória venha a ser conhecida, falarei da tua bondade. Mesmo quando o coração mais deseja do que desfruta, ainda assim devemos continuar engrandecendo o Altíssimo, pois o seu amor é verdadeiramente precioso. Mesmo que, por ora, suceda que não estejamos nos alegrando com o fato, não devemos fazer com que os nossos louvores a Deus dependam da recepção pessoal e presente das bênçãos. Seria mero egoísmo. Até os publicanos e pecadores têm uma palavra boa para aqueles cujas mãos estejam enriquecendo-os de dádivas. O verdadeiro crente é aquele que bendiz ao Senhor mesmo quando este lhe toma as bênçãos ou lhe esconde a face.

“Assim, eu te bendirei enquanto viver; “ Como eu te bendigo agora, assim sempre te bendirei. Ou antes, à medida que fores revelando a tua benignidade para mim, eu por minha vez continuarei te exaltando. Enquanto vivermos, amaremos. Se não virmos motivo de alegria em nossa situação, sempre acharemos razão para nos alegrar no Senhor. Se nenhum dos outros povos bendiz Deus, o seu povo bendiz. A natureza divina, por ser Deus infinitamente bom, é argumento suficiente para o nosso louvor enquanto existirmos.

“...em teu nome levantarei as minhas mãos. “ Onde se acha o preceito de orarmos a Deus com as mãos erguidas? Ordena o Apóstolo: “Erguendo mãos santas, sem ira e sem animosidade” (1Timoteo 2,8). Ao ergueres as mãos para Deus, venham à tua memória tuas obras. Porque ao ergueres as mãos a fim de obteres o que queres, cuida de empregá-las em boas obras, para não teres vergonha de as ergueres para Deus. As mãos foram levantadas para adorar, igualmente na alegria, na gratidão, na labuta, na confiança. Em todos estes sentidos, erguemos as mãos unicamente no nome de Jeová. As mãos não devem abaixar quando Deus se aproxima em amor. O nome de Jesus fez os paralíticos saltarem como cervos e os tristes aplaudirem com as mãos de alegria.

 

DEIVY FERREIRA PANIAGO JUNIOR
19/2/2023

Fontes:

RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra – O chamado das escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2023.

SPURGEON, Charles. Os Tesouros de Davi – Volume 2. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.

SANTO AGOSTINHO. Comentário aos Salmos 1 a 50. Coleção: Patrística Ano de edição ou reimpressão: 1997. Editora: Paulus.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

História da Septuaginta (Versão dos Setenta) - Flávio Josefo


Ptolomeu, cognominado Filadelfo, sucedeu no reino do Egito a Ptolomeu Sóter, seu pai, e reinou trinta e nove anos. Mandou traduzir em grego as leis dos judeus e permitiu a cento e vinte mil homens que estavam nessa nação voltar ao seu país, e disso devo dar a razão.

Demétrio Falero, diretor da biblioteca do príncipe, trabalhava com extremo cuidado para reunir, de todos os lugares do mundo, os livros que julgava mere­cerem essa honra e tinha isso como coisa que seria muito agradável ao soberano. Um dia, o rei perguntou-lhe quantos livros possuía, e ele respondeu que eram mais ou menos duzentos mil, mas esperava dentro de pouco tempo chegar a quinhentos mil, e que soubera haver entre os judeus muitas obras referentes às suas leis e aos seus costumes, escritas em sua língua e em seus caracteres e muito dignas de ocupar um lugar naquela soberba biblioteca. Porém, dariam muito trabalho para serem traduzidas em grego, porque a língua e os caracteres hebraicos tinham grande semelhança com os siríacos. No entanto, isso poderia ser feito, pois sua majestade não se importava com as despesas.

O rei aprovou essa proposta e escreveu ao sumo sacerdote dos judeus, para que este lhe enviasse os livros. Aconteceu que naquele mesmo tempo Aristeu, a quem o príncipe amava extremamente por causa de sua moderação e sabedoria, tinha em mente pedir que pusessem em liberdade os judeus que estavam em seu reino. E essa ocasião pareceu-lhe muito favorável ao seu desígnio. No entanto, ele julgou dever comunicá-lo a Zozibe, a Tarentino e a André, chefes de seus guardas, antes de fazer a proposta ao rei, a fim de que eles apoiassem o que ia dizer. E todos foram da mesma opinião.

Então ele falou deste modo ao soberano: "Tendo sabido que vossa majestade tem a intenção de ter não somente uma cópia das leis que os judeus observam, mas fazê-las traduzir, eu não estaria falando com sinceridade se fingisse não ver que isso não pode ser feito honestamente, quando vossa majestade conserva escravos neste reino um grande número de pessoas dessa nação. Mas seria, sem dúvida, digno de vossa bondade e generosidade libertar todos eles dessa misé­ria, pois, segundo o que pude concluir, após ter-me seguramente informado, o mesmo Deus que governa o vosso império e que adoramos sob o nome de Júpiter, porque nos conserva a vida, foi o autor da lei desse povo. Sendo, pois, que nenhuma outra nação lhe presta tão grande honra e culto tão particular, a sua piedade parece me obrigar a encaminhá-los ao seu país. Por isso, suplico humil­demente que vossa majestade creia que a liberdade que tomo de vos falar assim não provém de nenhuma ligação ou aliança com esse povo, mas somente por eu saber que Deus é o Criador de todos os homens, em geral, e que as boas ações lhe são agradáveis".

O rei escutou com atenção essas palavras e, com rosto alegre, perguntou a Aristeu qual seria o número de judeus aos quais ele propunha a liberdade. André, que estava presente, respondeu que podiam ser uns cento e vinte mil. Disse então o rei a Aristeu: "Credes, então, Aristeu, que o que me pedis é um pequeno presente?" Zozibe e Tarentino tomaram, então, a palavra e disseram ao rei que nada poderia seria mais digno de sua majestade que reconhecer com tão grandiosa ação o dever de agradecer a Deus por tê-lo elevado ao trono. O sobe­rano sentiu tanto prazer ao constatar que todos pensavam do mesmo modo que prometeu para satisfazer plenamente a vontade de Deus, segundo o desejo de Aristeu pagar aos soldados, além do soldo, cento e vinte dracmas para cada judeu que tivessem como escravo. Eles disseram-lhe que essa despesa subi­ria a mais de quatrocentos talentos, mas ele respondeu que isso não o impediria de fazê-lo.

Inclino-me a relatar as próprias palavras desse grande príncipe a esse respeito, a fim de que melhor se conheça a sua generosidade: "Queremos que todos os judeus aos quais os soldados do falecido rei, nosso pai, aprisionaram na Síria, na Fenícia e na judéia e venderam no Egito, como também os que antes ou mesmo depois foram vendidos em nosso reino, sejam libertados da servidão, e que se dêem de nossa moeda a cada um deles cento e vinte dracmas, que os nossos soldados receberão, além do soldo, pelos que forem de sua propriedade, e que os nossos tesoureiros paguem o resgate dos outros aos respectivos senhores. Porque tenho motivos para crer que isso ocorreu contra a vontade do rei, nosso pai, e contra toda a eqüidade, e que os soldados trouxeram ao Egito esse grande número de escravos pelo único desejo de se aproveitarem deles. O amor à justiça e a compaixão que se deve ter dos infelizes nos obriga a libertar todos esses escravos, depois de paga aos seus senhores a quantia que estipulamos. E, como não duvidamos de que a bondade da qual usamos nesta ocasião não nos será vantajosa, queremos que a presente determinação seja cumprida em boa fé, e, depois que for publicada, os que possuírem tais escravos nos dêem disso uma relação, dentro de três dias. Será permitido denunciar a quem não nos obedecer, e todos os seus bens serão confiscados em nosso favor".

Esse documento foi apresentado ao rei, e ele achou que não estava bem ex­plícito, pois deveria incluir expressamente os que haviam sido feito escravos an­tes e depois de tão grande número ser trazido ao Egito, quando Tolomeu Sóter se tornou senhor de Jerusalém. Ele queria, por uma bondade e magnificência reais, conceder a esses a mesma graça. Então ordenou que se tomasse a quantia necessária dos cofres dos tributos, para que fosse entregue aos tesoureiros e distribuída aos soldados como resgate desses judeus. A ordem foi executada em sete dias, e veio a custar ao soberano quatrocentos e sessenta talentos, porque os senhores dos escravos judeus cobraram também pelas crianças as cento e vinte dracmas de que falava a ordem real.

Depois de uma libertação tão extraordinária, o rei, que nada fazia sem madu­ra reflexão, ordenou a Demétrio que fizesse publicar a sua determinação a res­peito da tradução dos livros hebraicos para a língua grega. Registrou-se o pedido apresentado a sua majestade por Demétrio, bem como as cartas escritas a esse respeito, o número e a riqueza dos presentes que foram enviados a fim de se dar a conhecer a extraordinária magnificência do soberano e o que os operários haviam feito como contribuição para a arte.

A proposta apresentada ao rei por Demétrio, em forma de pedido, estava exarada nestes termos: "Demétrio, ao grande rei. Como vossa majestade me ordenou, fiz uma indagação a mais exata possível dos livros que ainda faltam para tornar perfeita a biblioteca real. Não houve cuidado ou solicitude que eu não empregasse nisso, e tenho de comunicar à vossa majestade que os livros que contêm as leis dos judeus estão no número dos que faltam, tanto porque estão escritos em caracteres hebraicos, que não conhecemos, quanto porque não nos incomodamos em procurá-los, porque vossa majestade ainda não havia manifestado o desejo de possuí-los. No entanto, é necessário possuí-los e que sejam fielmente traduzidos, porque contêm as mais sábias e perfeitas leis do mundo, pois foi o próprio Deus quem as outorgou, o que fez o historiador Hecateu Abderita dizer que não há poeta nem historiador que tenha falado assim, nem homem que tenha cumprido o que elas determinam, porque, sendo todas santas, não devem estar na boca dos profanos. É necessário, pois, se vossa majestade bem o julgar, que se escreva ao sumo sacerdote dos judeus para que ele escolha, entre os principais de cada tribo, os mais inteligentes e os que conhecem com mais perfei­ção essas leis e vo-los envie, a fim de que se reúnam e façam uma tradução exata e capaz de satisfazer plenamente os desejos de vossa majestade".

Depois que o rei leu essa petição, ordenou que se escrevesse conforme o que nela se dizia a Eleazar, sumo sacerdote dos judeus, e determinou que se desse liberdade a todos os judeus que eram ainda escravos no seu reino. Ordenou que se enviassem cinqüenta talentos de ouro, para a confecção de taças, vasos e outros objetos próprios para as oblações, muitas pedras preciosas, que os guar­das do tesouro haviam entregado aos joalheiros para que escolhessem e traba­lhassem as que podiam ser usadas em adornos, e cem talentos de prata, para os sacrifícios e outros usos do Templo.

Falarei das obras e dos ornamentos em que foram empregados, mas é preciso antes apresentar uma cópia da carta escrita ao sumo sacerdote e dizer de que modo ele foi elevado a essa dignidade. Depois da morte do sumo sacerdote Onias, Simão, seu filho, sucedeu-o e foi cognominado o Justo, por sua piedade e extrema bondade para com a nação. Deixou apenas um filho, de nome Onias, tão jovem que Eleazar, irmão de Simão, de quem se trata agora, exerceu no lugar dele o sumo sacerdócio.

Foi a esse Eleazar que Ptolomeu escreveu a seguinte carta: "O rei Ptolomeu a Eleazar, sumo sacerdote, saudação. O falecido rei, nosso pai, tendo encontrado em seu reino vários judeus que os persas para lá haviam levado como escravos, tratou-os tão favoravelmente que os engajou em grande parte no seu exército, com bom soldo. Colocou vários deles como guarnição em diversos lugares, confiando-lhes até mesmo a defesa. Isso os tornou temíveis aos egípcios. E nós, depois de nossa ascensão ao trono, não lhes testemunhamos menos bondade, particularmente aos de Jerusalém pois pusemos em liberdade mais de cem mil deles depois de pagar o resgate aos seus senhores tanto estamos persuadidos de nada mais poder fazer de agradável a Deus para agradecer-lhe a dádiva de haver colocado o cetro em nossas mãos para o governo de tão grande reino. Fizemos também alistar em nossas tropas aqueles que pela idade são os mais aptos a pegar em armas e destacamos mesmo alguns deles para servir junto de nós, como prova de nossa confiança na sua fidelidade. Mas, para vos mostrar mais particularmente a nossa afeição pelos judeus de todo o mundo, queremos que se traduzam as vossas leis do hebraico para o grego, e colocaremos essa tradução em nossa biblioteca. Assim, far-nos-eis coisa muito grata se escolherdes em todas as vossas tribos pessoas que, pela idade e inteligência, tenham adquiri­do um grande conhecimento de vossas leis e sejam capazes de as traduzir com exata fidelidade. Não duvidamos de que essa obra, saindo como nós esperamos, nos trará grande glória. Para tratar convosco desse assunto, enviamo-vos André, comandante de nossos guardas, e Aristeu, que são dois dos nossos servidores de mais confiança. Eles vos estão levando, de nossa parte, cem talentos de prata, para serem empregados nas oblações dos sacrifícios e em outros usos do Tem­plo. Esperamos a vossa resposta, e ela nos causará grande alegria".

Eleazar, para responder a essa carta o mais respeitosamente possível, assim escreveu ao rei: "O sumo sacerdote Eleazar, ao rei Ptolomeu, saudação. Recebi com o sentimento que devo ter pela vossa real benevolência a carta que vossa majestade se dignou escrever-me. Ela foi lida na presença de todo o povo, e nela notamos, com grande satisfação, sinais de vossa piedade para com Deus. Rece­bemos também e mostramos a todos os vinte vasos de ouro e os trinta de prata, as cinco taças e a mesa que devem ser consagradas e empregadas nos sacrifícios e no serviço do Templo, bem como os cem talentos que nos foram trazidos, da parte de vossa majestade, por André e Aristeu, cujos méritos os tornam tão dig­nos da afeição com que os honra vossa majestade. Vossa majestade pode ficar certo de que tudo faremos para mostrar o nosso reconhecimento pelos tantos favores com que vos dignais cumular-nos. Oferecemos também sacrifícios a Deus por vossa majestade, pela princesa vossa irmã, pelos príncipes, por vossos filhos e por todas as pessoas que vos são caras. Todo o povo pediu a Deus em suas orações que escute os vossos desejos, confirme o vosso reino em perfeita paz e faça com que essa tradução de nossas leis vos dê toda a satisfação que possais desejar. Escolhemos, majestade, seis homens de cada uma de nossas tribos para levar até vós as nossas santas leis e esperamos de vossa bondade e justiça que, quando não tiverdes mais necessidade deles, sejam mandados de volta em segu­rança com os que vos irão apresentá-los".

Seria inútil, segundo a minha opinião, citar aqui os nomes das setenta e duas pessoas que levaram as leis dos judeus ao rei Tolomeu, embora todas sejam men­cionadas na carta do sumo sacerdote. Não creio, porém, dever passar em silêncio a magnificência e a beleza dos presentes que o príncipe ofereceu a Deus, pois podem nos manifestar ainda mais a sua piedade. Não se contentou ele em fazer grandes despesas para esse fim, mas ofereceu presentes até aos operários, para incitá-los a trabalhar com maior cuidado e diligência. Assim, embora a continua­ção da história não me obrigue a falar disso, não deixarei de fazê-lo, pois tão extraordinária liberalidade merece que dela fiquem indícios para a posteridade.

Começarei pela soberba mesa. Como o príncipe desejava que ela sobrepujas­se em muito a que estava no Templo em Jerusalém, mandou tomar a medida desta, e era seu desejo que a sua fosse cinco vezes maior. Contudo, como ele também tinha em mente a comodidade e a magnificência, o temor de torná-la inútil ao uso a que era destinada obrigou-o a contentar-se em fazê-la do mesmo tamanho que a outra. Todavia, para embelezá-la e enriquecê-la, usou o mesmo que teria gasto para fazê-la maior, pois era perito em todas as artes e tão hábil em inventar coisas novas e admiráveis que ele mesmo fornecia os desenhos aos operários e os instruía sobre a maneira de executá-los.

O comprimento da mesa era de dois côvados e meio, a largura, de um côvado e a altura, de um côvado e meio. Era de ouro maciço, muito puro. As bordas, cuja largura era de um palmo, tinham florões em relevo, também em escultura, dispostos ao redor de alguns cordões muito bem trabalhados. Os diversos lados desses florões, que eram de forma triangular, eram tão iguais e tão justos que de qualquer lado mostravam sempre a mesma figura. A parte inferior da mesa era muito bem trabalhada, mas a superior era ainda mais, porque ficava mais expôsta à vista, e, para qualquer lado que estivesse voltada, era sempre perfeitamente bela. Pedras preciosas de grande valor estavam presas com broches de ouro, a distância iguais, aos cordões de que falamos.

Havia também ao redor de toda a mesa grande quantidade de outras pedras preciosas, cortadas de forma oval e entremeadas de adornos em relevo. E, ainda ao redor da mesa, estavam representadas, sob a forma de uma coroa, diversas espécies de frutos, tais como cachos de uvas, espigas de trigo e romãs. Todos esses frutos eram feitos de pedras preciosas coloridas e encastoadas no ouro. Viam-se também, sob essa coroa, uma fila de pérolas em forma de ovos e, abaixo das pérolas, uma fileira de pedras preciosas deforma oval, misturadas com obras de relevo, como as outras.

A mesa era tão bela em si mesma e em todas as suas partes, e tão ricamente trabalhada, que de qualquer lado que fosse vista não se notava diferença algu­ma. Havia por baixo uma lâmina de ouro de quatro dedos de largura, que a atravessava inteiramente e na qual os pés da mesa estavam presos com gram­pos de ouro, a igual distância. Esses grampos prendiam de tal modo a parte inferior da mesa que, estando colocada em qualquer posição, apresentava sem­pre o mesmo aspecto.

Gravado sobre a mesa estava um meandro,* assinalado por grande quantida­de de pedras preciosas, como se fossem estrelas. Era um prazer ver brilhar os rubis, as esmeraldas e tantas outras pedras de valor, todas estimadas e procura­das pela sua excelência. Ao longo desse meandro, havia nós de escultura cujo centro, em forma de losango, era enriquecido com cristais e com âmbar, em intervalos iguais e tão bem dispostos que nada podia ser mais belo ou perfeito. As cornijas dos pés eram em forma de lírios, cujas folhas se dobravam por baixo da mesa, embora a haste fosse reta. Sua base, da largura de um palmo, era enriquecida com rubis e tinha uma dobra ao redor. Era de oito dedos o espaço entre os pés, e eles estavam apoiados sobre essa base.

A figura dos pés era admirável. Viam-se heras e ramos de videira com os ca­chos entrelaçados de maneira muito delicada, tão agradável e semelhantes ao natural que, quando soprava o vento, os olhos se enganavam, parecendo vê-los mover-se, como se não fossem obras de arte, mas da natureza.

As três peças de que toda a mesa era composta estavam tão bem adaptadas que não era possível perceber as junturas. A espessura da mesa era de meio côvado. Assim, a riqueza da matéria e a excelência e variedade dos ornamentos de tão magnífico presente mostravam muito bem que esse grande príncipe, não tendo podido, pelas razões que citamos, fazer essa mesa maior que a que estava no Templo, nada economizou para que a superasse em tudo o mais.

Havia também dois grandes vasos de ouro em forma de taça e talhados em escamas. Neles estavam encaixadas, desde os pés até em cima, diversas fileiras de pedras preciosas, que compunham um meandro de um côvado de largura, e acima dele havia gravuras excelentes. Um tecido em forma de rede, da largura de quatro dedos, que ia até o alto dos vasos e dos compartimentos feitos em losangos, aumentava ainda a beleza daquela obra. As bordas dos vasos eram enriquecidas com lírios e outras flores, e com ramos de videira carregados de cachos de uvas entrelaçados. Cada um desses vasos continha duas grandes me­didas. Já as taças de prata eram mais brilhantes que espelhos e reproduziam o rosto dos que as contemplavam.

O rei mandou também trinta vasos, nos quais o que não estava coberto de pedras preciosas tinha folhas de hera e de vinha muito bem gravadas. Não era possível contemplar essas obras sem admiração, porque o zelo a elas de­dicado e a sua magnificência contribuíam mais para isso que o trabalho e a ciência daqueles excelentes artífices. O príncipe não se contentou em não medir despesas, mas deixava até mesmo negócios importantes para ir ver os operários trabalharem. E animava-os de tal modo com a sua presença que eles, para contentá-lo, duplicavam os esforços. Depois que o sumo sacerdote Eleazar recebeu esses ricos presentes, consagrou-os a Deus no Templo, em nome do príncipe, e prestou muita honra aos que os haviam levado, despedindo-os com muitos presentes.

O rei, ao regresso deles, interrogou André e Aristeu sobre diversas coisas e mos­trou tanta solicitude em conversar com os deputados que tinham vindo com eles que despediu, contra o seu costume, os que ali estavam para a audiência ordinária que ele dava a cada cinco dias aos seus súditos (ele também concedia uma, todos os meses, aos embaixadores). Esses sábios anciãos ofereceram-lhe os presentes do sumo sacerdote e apresentaram a lei que lhes fora entregue. O soberano fez per­guntas sobre o que ela continha e, depois que a desdobraram, ficou admirado com a delicadeza do pergaminho sobre o qual estava escrita, em letras de ouro, bem como com as folhas presas tão juntamente que não era possível perceber as costuras. Depois de a observar por muito tempo, disse que lhes agradecia por terem vindo, e mais ainda aos que os tinham enviado, e que não podia agradecer suficientemente a Deus por haverem trazido a ele as suas leis.

Os deputados, com demonstrações de afeto, desejaram-lhe toda sorte de pros­peridade. O rei ficou tão comovido que não pôde reter as lágrimas, porque elas não são somente sinal de grande tristeza, mas também de imensa alegria. Ele ordenou em seguida que entregassem os livros aos que os deviam guardar, abraçou-os e disse-lhes que era justo, depois de haver falado do objetivo de sua viagem, falar também do que lhes competia fazer. Assim, para mostrar o quanto a vinda deles lhe era agradável, queria que durante o resto de sua vida se renovasse a memória daque­la data, que coincidia também com o dia em que ele vencera uma batalha naval sobre Antígono. Concedeu-lhes ainda a honra de estarem à sua mesa e ordenou que fossem muito bem alojados, nos altos da fortaleza que fica próxima do promontório.

Nicanor, que era encarregado de receber os estrangeiros, teve particular cui­dado deles e ordenou o mesmo a Doroteu, pois o rei havia ordenado que, para melhor se tratarem os estrangeiros, as cidades fornecessem o que tinham do gosto deles e que tudo fosse preparado segundo o costume do país de onde vinham. Porque ele sabia que, por mais apetitosas que sejam as iguarias, não podem ser consideradas boas se não se adaptarem ao gosto da pessoa ou não forem preparadas da maneira a que ela está habituada.

Como Doroteu estava encarregado disso, Nicanor ordenou-lhe que fizesse duas fileiras de bancos, nos quais os deputados deveriam sentar-se, nos banque­tes do rei, metade deles à sua direita e metade à esquerda. Tudo ele fez para honrá-los e ordenou a Doroteu que os servisse à maneira do país deles. Os sacer­dotes egípcios, que tinham o costume de orar antes da refeição do rei, não o fizeram. Então o soberano disse a Eliseu, um dos deputados, que era sacerdote, que fizesse a oração. Ele levantou-se e rogou a Deus pela prosperidade do rei e de seus súditos. Todos os que estavam presentes proferiram aclamações de ale­gria e depois puseram-se à mesa.

O rei, durante a refeição, fez perguntas Fílosóficas aos deputados e ficou tão satisfeito com as respostas que continuou por doze dias a tratá-los do mesmo modo. Se alguém quiser saber mais particulares a esse respeito, terá apenas de ler o que Aristeu escreveu. Mas o rei não foi o único que lhes admirou as respos­tas. O filósofo Menedemo confessou que elas o confirmavam na opinião de que todas as coisas são governadas pela Providência e lhe forneciam razões para sus­tentar o seu parecer. O rei chegou a conceder-lhes a honra de dizer que obtivera tanto proveito de suas conservações que aprendera até mesmo de que modo devia proceder para bem governar o seu reino. Ordenou em seguida que fossem levados aos aposentos já para eles preparados.

Três dias depois, Demétrio levou-os por uma estrada longa sete estádios, pela ponte que une a ilha a terra firme, a uma casa situada à beira-mar, do lado norte, afastada de qualquer barulho, para que nada pudesse perturbá-los em seu traba­lho, o qual exigia muita atenção e cuidado, e rogou-lhes que, tendo naquele lugar tudo o que podiam desejar, começassem sem mais tardar o grande empreendi­mento para o qual haviam sido trazidos. Eles o fizeram com toda a dedicação e constância, trabalhando assiduamente para que a tradução fosse exatíssima. Tra­balhavam ininterruptamente até as nove horas da manhã, quando lhes levavam o alimento. (Nisso eles eram muito bem tratados, pois Doroteu seguia exatamente as ordens recebidas, apresentando-lhes os mesmos alimentos que haviam sido preparados para a mesa real.) Eles iam todas as manhãs ao palácio saudar o sobe­rano e depois punham-se a trabalhar, após lavar as mãos nas águas do mar. Empre­garam apenas setenta e dois dias para traduzir toda a Lei.

Terminada a obra, Demétrio reuniu todos os judeus e leu-lhes a tradução na presença dos setenta e dois intérpretes. Eles a aprovaram, elogiaram muito Demétrio por haver imaginado uma coisa tão proveitosa para eles e rogaram-lhe que também mandasse fazer aquela leitura aos chefes de sua nação. Eliseu, sacerdote, o mais idoso dos intérpretes e os magistrados constituídos para governo do povo pediram em seguida que nada mais se viesse a mudar naquela obra, que fora concluída com tão raro êxito. Essa proposta foi aprovada, dando a esse ato força de lei, porém com a condição de que antes seria permitido a cada um examinar a tradução, para ver se nada havia a acrescentar ou a suprimir e a fim de que, tendo sido o assunto muito bem ponderado, nunca mais se tivesse de voltar a ele.

O rei viu com grande prazer que o seu desígnio tivera muito bom êxito, e com proveito para o povo. E a sua alegria aumentou em muito ainda quando ele ouviu a leitura das santas leis. Não se cansava de admirar a prudência e a sabedoria do legislador que as elaborara. E, um dia, quando conversava com Demétrio, pergun­tou-lhe como nenhum historiador ou poeta havia falado daquelas leis, sendo elas tão excelentes. Ele respondeu-lhe que, como eram divinas, ninguém se animara a fazê-lo, e os que o haviam feito foram castigados por Deus. Teopompo, disse ele ainda, teve essa intenção, isto é, inserir alguma coisa delas em sua história, e per­deu o juízo durante trinta dias. Depois de reconhecer, em intervalos de lucidez e em um sonho, que aquilo lhe acontecera por ele haver querido penetrar as coisas divinas e dar notícia delas a homens profanos, a cólera de Deus foi aplacada com preces, e ele voltou ao seu juízo normal. O profeta Teodecto, tendo misturado em uma de suas tragédias algo que tirara dos livros divinos, perdeu a visão e só a recobrou depois de reconhecer a sua falta e rogar a Deus que o perdoasse.

Quando o rei recebeu os livros das mãos de Demétrio, adorou-os e ordenou que fossem guardados com o máximo cuidado, a fim de que em nada pudessem ser modificados. Disse depois aos sábios intérpretes que era justo permitir-lhes o regres­so ao seu país, e rogava que viessem muitas vezes visitá-lo, pois os receberia com muito prazer e dar-lhes-ia tantos presentes que não se arrependeriam da viagem. Depois de lhes falar de maneira tão gentil, despediu-os com muitos e magníficos presentes. Deu a cada um diversas espécies de vestes, dois talentos de ouro, uma taça do peso de um talento e assentos para se deitarem e para as refeições.

Ao sumo sacerdote Eleazar, mandou dez leitos cujos pés eram de prata, um vaso do peso de trinta talentos, dez túnicas de púrpura, uma belíssima coroa de ouro, cem peças de fazenda de fino linho, diversos vasos para beber e turíbulos e taças de ouro para serem consagrados a Deus. Na carta que lhe escreveu, rogou-lhe que permitisse aos deputados vir visitá-lo todas as vezes que quisessem, pois teria grande prazer em conversar com eles, pela sua ciência e capacidade, e far-Ihes-ia ainda sentir os efeitos de sua liberalidade. Pode-se avaliar, pelo que acabo de referir, com que magnificência Ptolomeu Filadelfo, rei do Egito, tratou os judeus.

Fonte:

JOSEFO, Flavio. História dos Hebreus: Obra Completa. Tradução do grego de Vicente Pedroso. 5. ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2007