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quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Eram três reis e magos? Teólogos apontam para os mitos inseridos às narrativas bíblicas (6 de Janeiro de 2022)





Representação dos “três reis magos”. (Foto: Kalhh/ Pixabay)

“Depois que Jesus nasceu em Belém da Judéia, nos dias do rei Herodes, magos vindos do Oriente chegaram a Jerusalém e perguntaram: Onde está o recém-nascido rei dos judeus? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.” (Mateus 2.1-2)

O que quer dizer “mago” no contexto bíblico

Mago vem da palavra grega que significa “astrólogo” conforme o arqueólogo e teólogo Dr. Rodrigo Silva. Ele explica que um astrólogo, naquele tempo, era um adorador de corpos celestes, que previa o futuro através da leitura das estrelas e também analisava a influência dos astros sobre a vida das pessoas.

Para o arqueólogo, a estrela que os magos viram não era uma previsão do nascimento de Jesus, mas um sinal de que Ele havia chegado e a indicação do local onde Ele estava. “Uma manifestação celestial que ‘parecia’ uma estrela”, explicou.

E, até o dia de hoje, Deus revela sinais no sol, na lua e nas estrelas como indicação da volta de Cristo. Voltando ao termo “mago”, vale lembrar também que alguns homens de Deus receberam esse título por se destacarem entre os sábios. Veja por exemplo, o que disseram de Daniel:

“Existe um homem em teu reino que possui o espírito dos santos deuses. Na época do teu predecessor verificou-se que ele tinha percepção, inteligência e sabedoria como a dos deuses. O rei Nabucodonosor, teu predecessor, sim, teu predecessor, o rei, o nomeou chefe dos magos, dos encantadores, dos astrólogos e dos adivinhos.”

“Verificou-se que esse homem, Daniel, a quem o rei dera o nome de Beltessazar, tinha inteligência extraordinária e também a capacidade de interpretar sonhos e resolver enigmas e mistérios.” (Daniel 5.12)

Perceba que nem sempre a Bíblia se refere aos magos como feiticeiros, mas como homens sábios e de inteligência extraordinária. Quando a liderança pagã nomeava um homem de Deus como sábio, adivinho ou mago, era por causa de sua capacidade de profetizar sobre a vida das pessoas. A diferença é que a profecia e as previsões de futuro vinham de um único Deus, o Criador de todas as coisas.

Mago no contexto atual

O significado de mago, em nossa sociedade, é alguém que faz magia ou ainda que se envolve com “forças das trevas”. Se levarmos o nosso conhecimento atual para a interpretação de um texto bíblico, a nossa compreensão pode realmente ficar muito confusa.

O teólogo Yago Martins do canal “Dois Dedos de Teologia” também acredita que o termo mais adequado para os magos, seria “astrólogos do Oriente”, descrevendo pessoas envolvidas não só com astrologia, mas também astronomia. Antigamente, a ciência unificava estas duas especialidades.

Representação da estrela de Belém. (Foto: Briam Cute/ Pixabay)

A estrela como um sinal

Nos manuscritos disponíveis, naquela época, havia uma profecia sobre a vinda de Jesus, que falava sobre uma estrela:

“Eu o vejo, mas não agora; eu o avisto, mas não de perto. Uma estrela surgirá de Jacó; um cetro se levantará de Israel.” (Números 24.17)

A citação da estrela indica o sinal da vinda do Messias e a profecia revela a localidade de seu nascimento.

Gaspar, Beltazar e Belchior

Parece que estamos diante de mais um mito, pois a Bíblia não diz os nomes dos magos e nem que eram três. A única indicação numérica do texto é o fato de que Jesus recebeu três presentes: ouro, incenso e mirra. Mas isso não significa que havia exatamente três pessoas do Oriente indo visitar Jesus.

Yago Martins observa que duas pessoas poderiam entregar três presentes. Quem sabe uma quantidade maior de pessoas? Cinco, dez, vinte... O teólogo lembra que, na tradição siríaca, os magos geralmente são contados como sendo doze.

Outro detalhe é que os tipos de presentes que Jesus recebeu eram excessivamente caros para a sociedade daquela época, logo, faz sentido que um grupo de pessoas se empenhasse em adquiri-los para presentear o Salvador.

Ouro, incenso e mirra. (Foto: Canva)

Simbologias, tipos e figuras

Ouro — símbolo que representa a perfeição divina e dignidade real. 

Incenso — perfume usado nas cerimônias do tabernáculo e indica a fragrância da humanidade sem pecado de Jesus Cristo, que era percebida por todos. Por onde ele passava ficava seu aroma.

“Mas graças a Deus, que sempre nos conduz vitoriosamente em Cristo e por nosso intermédio exala em todo lugar a fragrância do seu conhecimento; porque para Deus somos o aroma de Cristo entre os que estão sendo salvos e os que estão perecendo. “ (2 Coríntios 2.14-15)

Mirra — erva amarga que simboliza os sofrimentos e as amarguras que Jesus iria sofrer. É por isso que no livro de Isaías cita apenas o ouro e o incenso. Veja: 

“Virão todos os de Sabá carregando ouro e incenso e proclamando o louvor do Senhor.” (Isaías 60.6)

O profeta está falando da segunda vinda de Cristo, que será em poder e glória, e não em sofrimento como foi da primeira vez. 

Então, o ouro, o incenso e a mirra eram uma declaração dos magos, dizendo que Jesus era Deus e Rei, mas que estava destinado ao sofrimento — a sua morte de cruz para salvar a humanidade. 

Os magos eram reis?

Durante a leitura do texto bíblico, é normal que as pessoas associem a riqueza à monarquia. Mas não é porque os presentes eram caros que os presenteadores deveriam ser reis. 

E aqui nesse ponto, Yago faz outra observação: “Visitando o rei Herodes, seria comum que os reis fossem conhecidos dele, mas tudo indica que não eram. Eles deveriam ser apresentados de forma ‘pomposa’, mas eles aparecem de forma muito humilde no Evangelho”.

Conclusão

Nem três, nem reis e nem estritamente magos no sentido moderno. A narrativa tão conhecida e contada através dos presépios populares carrega em si um pouco de lenda e crendice popular. Conhecer a Bíblia, no entanto, pode derrubar esses mitos e nos guiar para mais perto da verdade. 

E esse foi o estudo desta semana. Espero que tenha tirado a sua dúvida e também colaborado para o seu crescimento espiritual. Beijo no coração e até a próxima, se Deus quiser!

Por Cris Beloni: jornalista cristã, pesquisadora e escritora.